Título: 'Juros precisam baixar'
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/03/2007, Economia, p. B5

'A política monetária está muito restritiva.' Essa frase já foi repetida por inúmeros analistas no Brasil - mas, vinda de quem vem, surpreende. É John Williamson, economista ortodoxo que ficou famoso ao cunhar o termo consenso de Washington, receituário que pregava abertura de mercado e reformas para a América Latina, quem critica o excesso de rigidez na política monetária brasileira. Para o economista, do respeitado Instituto de Economia Internacional, a demora para reduzir as taxas de juros foi um dos motivos para o desempenho pífio do PIB. Abaixo, trechos da entrevista que ele concedeu ao Estado.

O Brasil cresceu apenas 2,9% - só perdeu para o Haiti na América Latina. Por que o País não cresceu mais em 2006?

A política monetária está muito restritiva, precisa ficar mais expansionista. Uma vez que a inflação está sob controle, o banco central deveria ter reduzido as taxas de juros de forma mais agressiva.

Quão mais agressivo o Banco Central devia ter sido?

Acho que os juros poderiam estar um ou dois pontos porcentuais abaixo do nível atual da Selic. Juros mais baixos teriam ajudado a impulsionar o crescimento. Mesmo assim, não dá para alimentar muitas expectativas de que o Brasil vá crescer a taxas elevadas.

Não dá para o Brasil crescer 5% ao ano?

O nível de investimentos do País não sustenta uma taxa de crescimento do PIB de 5% ao ano. O investimento precisa ser mais alto, chegar ao nível do Chile pelo menos, de 25% a 30% do PIB. Acho que é possível chegar a este patamar de investimentos em quatro a cinco anos.

O que mais está emperrando o crescimento?

Os gastos do governo são um obstáculo. O fato de as aposentadorias serem atreladas ao salário mínimo é péssimo. O crescimento dos gastos de custeio do governo também precisa ser reduzido. E a carga tributária é muito alta. O Brasil tem carga tributária semelhante à da União Européia.