Título: Projeções para 2007 continuam cautelosas
Autor: Rehder, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/03/2007, Economia, p. B6

O mercado ainda vê com cautela a aceleração do ritmo de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, a soma das riquezas produzidas no País) no último trimestre de 2006. O avanço, de 1,1%ante o trimestre anterior, ficou bem acima dos 0,2% e 0,8% do segundo e terceiro trimestres. Há consenso entre especialistas de que a economia começou 2007 num ritmo mais forte, mas poucos projetam para o ano uma taxa muito superior aos 2,9% de 2006.

'Vai ter uma transferência um pouco maior, porém o crescimento deverá ficar entre 3% e 3,5%, com alguma tendência de ficar próximo de 3,5%', diz o economista Sergio Vale, da MB Associados. 'Ainda acho difícil ser mais que isso.'

Para ele, as condições de renda e crédito estão mais fracas que no ano passado e isso bastaria para fazer o consumo das famílias, o maior peso do PIB, ter novamente crescimento ao redor dos 3,8% de 2006. 'Acho muito difícil chegar a uma expansão do consumo das famílias de 5,5% ou 6%, como parte do mercado espera.'

Vale argumenta que a queda dos juros não será suficiente para essa mudança de patamar. Nesse sentido, afirma que, enquanto não se fizer uma reforma fiscal séria, que passe por corte de gastos e queda na carga tributária, não há possibilidade de o País crescer de forma sustentada mais que 4%. 'E não é o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) que vai conseguir mudar esse cenário.'

O economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Edgar Pereira, observa que uma das preocupações é com as importações, que têm crescido de forma vigorosa por causa da desvalorização do dólar ante o real, o que tira competitividade do produto nacional. Ele cita que o consumo das famílias teve aumento de 3,8% no ano passado, exatamente o dobro da expansão da oferta da indústria. Em contrapartida, a importação deu um salto de 18%.

Os dados indicam que grande parte do consumo está sendo suprida por importação, que entra como número negativo na conta do PIB. 'Caminhar para um câmbio mais equilibrado é condição determinante para um crescimento maior da economia ainda este ano', defende.

Na avaliação do economista Braulio Borges, da LC Consultores, o resultado do quarto trimestre de 2006 surpreendeu. 'Com os números divulgados, eu poderia revisar minha projeção do PIB para cima em até 0,2 ponto porcentual', diz.

A previsão inicial da LCA para 2007, de 3,9%, só não vai ser alterada por causa da mudança na metodologia do PIB, que incluirá uma revisão dos resultados do PIB de 1995 a 2006, ainda a ser divulgada pelo IBGE.

Borges conta que esperava um crescimento de 0,9% no último trimestre de 2006, o que acabou surpreendendo. Segundo ele, a surpresa veio principalmente da agropecuária, que cresceu 0,2%, ante previsão de queda de 0,5%. O resultado da indústria de transformação também ficou acima do esperado. O setor cresceu 3,4% no trimestre. A previsão da LCA era de 2,5%.

Para Pedro Paulo Silveira, economista da Grau Gestão de Ativos, o fato de a economia estar crescendo em ritmo mais forte já afasta o risco de redução das projeções para este ano. Ao contrário, ele aguarda a divulgação dos resultados de fevereiro da indústria e do comércio para um eventual ajuste para cima na previsão de crescimento.