Título: O novo cálculo do PIB: mais próximo do real
Autor: Bastos, Estêvão Kopschitz Xavier
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/03/2007, Economia, p. B8

Os dados do Produto Interno Bruto divulgados em 28 de fevereiro foram os últimos antes da divulgação da Nova Série do Sistema de Contas Nacionais ou 'a nova metodologia do PIB', a ser feita pelo IBGE, em março.

A nova série é importante porque será uma medida das contas nacionais - cuja variável síntese e mais conhecida é o PIB - mais próxima da realidade do que a anterior.

O IBGE tem frisado a expressão 'mudança de série' para descrever as alterações, por não se tratar nem de 'mudança de base', nem de mudança no sistema. As contas nacionais já são calculadas em base móvel, isto é, as contas de cada ano tomam como referência para ponderação dos setores os preços do ano anterior, e isso vai continuar, de modo que não se pode falar propriamente de mudança de base.

Também não haverá mudança mais profunda no sistema das contas nacionais, que continuarão a se basear nas recomendações do manual de contas nacionais da Organização das Nações Unidas,de 1993. Uma mudança no sistema - e, portanto, mais ampla - ocorreu em 1997, quando esse manual foi adotado em substituição a manual da mesma ONU de 1953.

No presente caso, passarão a ser usadas novas fontes, maior desagregação setorial, nova classificação de produtos e atividades e novas metodologias de apuração e cálculo dos componentes do PIB, mas boa parte dos relatórios metodológicos publicados depois de 1997 vai continuar valendo.

Muito se pergunta se o crescimento do PIB nos anos anteriores vai mudar. Sim, mas não é possível, a priori, dizer se vai mudar para mais ou para menos, pois são muitos elementos em jogo.

Na alteração metodológica de 1997, apesar da sua abrangência, a diferença nas taxas de crescimento não foi muito grande: a média de crescimento de 1994 a 1996, por exemplo, caiu de 4,4% para 4,0%.

Se bem que, em matéria de PIB, é preciso tomar cuidado com o que parece pequeno; 0,4 ponto de percentagem em 10 anos geraria um crescimento adicional de 4,1%, o que correspondia ao crescimento de um ano na época! Note-se que, na série atualmente disponível, a média de crescimento de 1994 a 1996 é de 4,2%, fruto de revisões, o que a aproxima ainda mais da média pré-mudanças de 1997.

Além das taxas de crescimento real, será importante observar se as alterações no valor do PIB em reais terão sido significativas e ocorrido para mais ou para menos. Se forem significativas, alterar-se-ão também as variáveis que são medidas comumente em proporção do PIB. Entre elas, a dívida pública, o déficit público e o superávit primário.

O PIB per capita também se alterará e, com ele, o IDH - Índice de Desenvolvimento Humano. O Brasil vem crescendo há anos a uma média anual de 2,5%. Talvez descubramos que crescemos mais do que isso, ou que crescemos ainda menos.

Nada disso, porém, alterará a realidade já passada. Afinal, a renda que os brasileiros conseguiram gerar continuará tendo sido a mesma, a sua medida é que terá mudado. Ninguém terá comprado mais, produzido menos, utilizado ou prestado mais ou menos serviços; apenas tudo isso estará sendo mais bem medido.

O IBGE está de parabéns pelo esforço realizado - e nem sempre reconhecido - particularmente a Diretoria de Pesquisa e a Coordenação de Contas Nacionais. Merece elogio também a iniciativa de divulgar com antecedência 23 notas metodológicas para informar o público usuário das alterações e receber sugestões sobre os textos, antes de serem consolidados numa publicação.

Além das reuniões com jornalistas e público especializado, realçando o papel técnico da instituição. O IBGE e o Brasil só têm a ganhar com o aumento da transparência no cálculo do PIB e o cultivo de uma comunidade de usuários.