Título: Acordo com EUA levará Petrobrás a ampliar projetos
Autor: Pamplona, Nicola
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/03/2007, Nacional, p. A6

O acordo entre Brasil e EUA no mercado de álcool pode levar a Petrobrás a rever seu planejamento estratégico para o setor, que hoje prevê investimentos de até US$ 2,4 bilhões para exportar 3,5 bilhões de litros a partir de 2011. De acordo com o diretor de abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa, os projetos em estudo atualmente vislumbram apenas o abastecimento do incipiente mercado japonês e terão de ser ampliados se o álcool brasileiro ganhar mais espaço na matriz de combustíveis norte-americana. 'Se as conversas com os Estados Unidos prosperarem, teremos de ampliar o projeto, com a construção de novos dutos', disse Costa.

Os planos da empresa hoje compreendem a participação acionária em até 40 novas usinas, a construção de uma rede de transporte para exportação de álcool de regiões produtoras no Sudeste, Centro-Oeste e parte do Sul e de terminais de recebimento do produto no Japão.

O projeto vem sendo tocado em parceria com a trading japonesa Mitsui e terá apoio do Japan Bank for International Cooperation (JBIC), banco de fomento daquele país. As duas empresas avaliam a participação com até 15% do capital em 40 usinas, um investimento total de US$ 8 bilhões.

Segundo Costa, o principal objetivo é fomentar o investimento privado no setor, mas é sabido pelo mercado que a Petrobrás e a Mitsui querem ter alguma ingerência sobre as unidades produtoras para reduzir os riscos de interrupção no fornecimento.

No campo logístico, as companhias têm um acordo com a construtora Camargo Corrêa para estudar a viabilidade de um duto ligando a cidade de Senador Canedo, em Goiás, a Paulínia, onde está o maior terminal de álcool do País. De lá, o produto seguirá, numa primeira fase, ao terminal da Ilha D'Água, na Baía de Guanabara, por um duto construído na década de 70 para esse fim, mas hoje subutilizado.

Ilha D'Água é um dos maiores terminais de movimentação de produtos da estatal e será usado para escoar exportações de álcool até que os volumes exportados justifiquem a construção de um ramal de Paulínia ao terminal de São Sebastião, considerada a fase 4 do projeto de logística da empresa, viável apenas caso as exportações atinjam os 8 bilhões de litros por ano. Antes disso, a companhia planeja investir num sistema de escoamento do álcool pela Hidrovia Paraná-Tietê, que será responsável pelo escoamento da produção do oeste de São Paulo, de Mato Grosso do Sul e do Paraná.

O sistema vai abranger 90% das regiões que atualmente produzem o combustível, calcula Marcelino Gomes, diretor de dutos e terminais da Transpetro, subsidiária da Petrobrás para a área de transportes.

Hoje, quase a totalidade do produto é transportada por caminhões. Segundo estimativas do mercado, o modal dutoviário pode reduzir o custo do transporte dos atuais US$ 4 para até US$ 0,80 por metro cúbico.

A Transpetro será responsável por operar a rede logística de exportação de álcool e já estuda a encomenda de navios-tanque para levar o produto ao exterior. Gomes não revelou qual seria a frota necessária, mas especialistas falam em pelo menos cinco embarcações, que precisam de especificações diferentes das usadas para o transporte de petróleo e derivados.

O diretor da subsidiária da Petrobrás defende a construção de um grande sistema de tancagem no exterior, operando como um estoque regulador, para garantir a disponibilidade do produto em caso de problemas de suprimento no Brasil. 'Certamente precisaremos de capacidade de armazenamento no Japão', diz Costa. Lá, o governo estuda a adição de álcool na gasolina e o uso do combustível para gerar energia em termoelétricas.