Título: EUA reagem à emboscada do Taleban: 16 civis morrem
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Fonte: O Estado de São Paulo, 05/03/2007, Internacional, p. A9

Uma emboscada do Taleban contra um comboio militar dos EUA nos arredores da Província de Jalalabad, no Afeganistão, provocou a morte de 16 civis e deixou cerca de 30 pessoas feridas. O Exército americano alega que as tropas apenas reagiram ao ataque, iniciado com a explosão de um microônibus suicida, mas não esclarece como os civis foram atingidos. Autoridades locais, no entanto, afirmam que, assustados, os soldados atiraram indiscriminadamente, matando os civis.

O chefe do distrito afegão de Shinwar, Mohammad Khan Katawazi, afirmou que os soldados americanos trataram todos na região como possíveis agressores. 'Eles abriram fogo contra todos, inclusive contra quem estava dentro de carros ou andando na rua', disse um dos civis feridos, Tur Gul. 'Quando estacionamos, os soldados passaram por nós e atiraram em nosso veículo', contou Mohammad Ishaq, de 15 anos, também atingido pelos tiros.

O Exército dos EUA acusa o Taleban. 'Nós sentimos pela morte de cidadãos inocentes como resultado de um ato covarde do grupo', disse em um comunicado oficial o porta-voz americano, tenente-coronel David Accetta. Um soldado americano ficou ferido no confronto.

Em protesto contra a violência, centenas de afegãos bloquearam a estrada próxima a Jalalabad e entraram em conflito com a polícia - que também culpa os americanos -, jogando pedra nos oficiais.

As tropas estrangeiras também estão sendo acusados pelos afegãos de matarem mais 30 civis em um incidente ocorrido sábado. Em combate com guerrilheiros no sul do país, soldados da Otan teriam matado moradores da Província de Helmand. A Aliança admite o confronto, mas nega a acusação. O porta-voz da Otan em Cabul, coronel Tom Collins declarou que os ataques chegam a ser cancelados caso haja alguma dúvida quanto à presença de civis nas regiões de combate.

A matança de civis é um tópico sensível para tropas estrangeiras e para o governo do presidente afegão, Hamid Karzai, apoiado pelo Ocidente. Segundo especialistas, os bombardeios e tiroteios, mesmo que acidentais, aumentam o ressentimento da população contra o governo e seus aliados e acabam dando mais força ao Taleban.

PRIMAVERA SANGRENTA

O grupo radical islâmico vem anunciando uma 'primavera sangrenta' (entre março e junho, no Hemisfério Norte) contra os mais de 35 mil soldados estrangeiros que estão no Afeganistão para enfrentá-lo. Bem armados e mais organizados do que nunca, os militantes prometem dar seqüência aos ataques de 2006, ano mais violento desde a invasão americana, em 2001.

O Taleban tem distribuído panfletos no sul do país anunciando a nova ofensiva e ensinando os civis a se proteger dos ataques. Um panfleto distribuído na cidade de Spin Boldak aconselhava as pessoas a manter distância de forças afegãs e seus comboios ou das aglomerações de estrangeiros.

Ontem, o jornal paquistanês The News divulgou que um comandante do Taleban reconheceu a prisão do ex-ministro da Defesa do grupo radical islâmico. O mulá Obaidullah Akhund teria sido detido na segunda-feira pelo serviço secreto do Paquistão na cidade de Quetta, capital da Província do Baluquistão, no Afeganistão. O governo paquistanês e o Taleban não confirmaram a informação. A prisão de Akhund teria acontecido horas após a visita do vice-presidente americano, Dick Cheney, ao Paquistão. No domingo, a polícia paquistanesa prendeu cinco afegãos em um ataque repentino em Quetta.