Título: Estoque alto segura a produção da indústria no primeiro trimestre
Autor: Rehder, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/03/2007, Economia, p. B1

A economia brasileira começou o ano em ritmo mais forte comparado ao que aconteceu em 2006, mas na indústria os sinais de reação ainda não são claros. Segundo empresários e economistas, depois de um Natal fraco, o setor virou o ano com nível elevado de estoque. Isso indica uma redução das atividades nas fábricas, para a desova de parte da produção que ajudou a engordar o Produto Interno Bruto (PIB, a soma de todas as riquezas geradas no País) do último trimestre do ano passado.

'A alta do PIB no trimestre, de 3,8% em relação ao mesmo período de 2005, foi acima do esperado, apesar dos subitens da demanda e oferta terem ficado parecidos', diz o economista Sergio Vale, da consultoria MB Associados. 'Isso sinaliza que houve acúmulo de estoques, fruto de um Natal que não foi tão bom quanto o esperado e da concorrência das importações.'

Para o economista, o crescimento de 2007 deverá ser maior do que o do ano passado (2,9%), mas ele ainda considera cedo para fazer qualquer previsão de um número superior a 3,5%. 'O cenário só vai ficar mais claro no segundo trimestre', diz. 'A indústria ainda tem fôlego curto, porque precisa se ajustar, o que deve se refletir no PIB do primeiro trimestre.'

O acúmulo de estoques é confirmado por Paulo Francini, diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). 'Parte do resultado do último trimestre foi estoque', afirma. O movimento não foi registrado, porém, pela Sondagem Conjuntural da FGV.

Segundo Francini, os dados do Indicador do Nível de Atividade (INA), que mede o desempenho da indústria paulista, 'capturaram esse fenomenozinho'. Em janeiro, o INA cresceu 0,8% sobre dezembro, descontado-se as variações que normalmente ocorrem entre os dois períodos. 'O resultado foi puxado pela venda de estoques formados no fim de 2006.' Ao contrário do INA, a conta do PIB considera apenas o valor agregado na produção, sem contar as vendas do setor.

No segmento de produtos químicos de uso industrial, as vendas cresceram 3,66% em janeiro sobre dezembro, interrompendo trajetória de quatro meses de quedas consecutivas, segundo a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). A redução no último quadrimestre de 2006 é atribuída, em parte, a uma formação antecipada de estoques preventivos na cadeia produtiva.

'Janeiro foi muito bom, porque as indústrias estavam com estoque baixo de matérias-primas e voltaram a comprar, mas fevereiro já não foi bem', afirma Guilherme Duque Estrada, vice-presidente da Abiquim.

As vendas da indústria contribuíram para o aumento do fluxo de caminhões nas estradas. Segundo a Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR), o movimento de veículos pesados aumentou 4,5% em janeiro ante o mesmo mês de 2006. Na comparação com dezembro, considerando os ajustes sazonais, o aumento foi de 0,4%.

O baixo dinamismo da produção industrial é confirmado pelo setor de papelão ondulado, considerado um bom termômetro do ritmo da economia porque fornece matéria-prima para embalagens usadas em vários segmentos da indústria. Em janeiro, as vendas cresceram só 1,1% comparadas com as de igual período do ano passado, segundo a Associação Brasileira do Papelão Ondulado.

'Vamos fechar o bimestre com aumento de 2%, o que não é nada brilhante, porque a base de comparação é medíocre', afirma Roberto Nicolau Jeha, presidente da Indústria de Papel e Papelão São Roberto.

A situação é bem melhor nos segmentos que fornecem insumos e matérias-primas para a construção civil e a agricultura, setores que têm contribuído para a expansão da economia. Na indústria do cobre, que fornece um terço de tudo o que produz para a construção civil, por exemplo, o clima é de otimismo.

Enquete do Sindicato da Indústria de Condutores Elétricos, Trefilação e Laminação de Metais Não-Ferrosos do Estado de São Paulo (Sindicel), feita com 58 empresas associadas, revela que 55% dos entrevistados apostam que as vendas deverão crescer neste trimestre em relação ao quarto trimestre de 2006. Outros 30% acreditam que será mantido o mesmo ritmo, enquanto só 15% acham que haverá retração.

'Nossos produtos são de acabamento e o setor já começa a sentir com mais intensidade os efeitos das medidas de incentivo ao setor imobiliário tomadas pelo governo', diz Sérgio Aredes, presidente do Sindicel.