Título: Para Lula, crise na China fortaleceu Meirelles
Autor: Abreu, Beatriz
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/03/2007, Economia, p. B3

O tombo na Bolsa de Xangai, que provocou uma reação em cadeia nos mercados mundiais, teve um efeito colateral no Brasil: silenciou, pelo menos momentaneamente, as queixas em relação ao conservadorismo da política monetária do País e fortaleceu o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.

Segundo um interlocutor do presidente da República, a turbulência nos mercados serviu para mostrar que a linha conservadora adotada pelo BC na condução da política de juros está correta. 'Não se pode dar um passo maior do que a perna', disse um graduado auxiliar do presidente, lançando mão de uma frase que o próprio Lula costuma usar.

De acordo com o assessor, embora acredite que haja espaço para uma queda maior dos juros, Lula não pretende opinar sobre futuras decisões do BC a respeito das taxas e orientou seus auxiliares a fazerem o mesmo. O presidente está convencido de que preservar a autonomia da autoridade monetária e mantê-la distante de ingerências políticas é o melhor a fazer. Segundo o assessor, Lula aprendeu que, em se tratando do BC, qualquer 'marola' tem efeito contrário.

O abalo no mercado acionário chinês chegou às vésperas da reunião do Comitê de Política Monetária do BC (Copom), que decide entre amanhã e quarta-feira a taxa básica de juros (Selic) válida para os próximos 40 dias.

No governo e no BC, a avaliação é a de que o tremor nos mercados é uma correção técnica de ativos. Ou seja, depois de acumular em apenas um ano ganhos de 130%, os ativos chineses passaram por um ajuste.

Técnicos da área econômica asseguram que as condições da economia brasileira são mais robustas hoje. As reservas cambiais se aproximam dos US$ 105 bilhões e a dívida pública interna indexada ao câmbio representa uma ínfima parte do total (1,3% da dívida pública interna em poder do público). Ou seja, mesmo na hipótese de maior desvalorização do real ante o dólar, os custos para o Tesouro não seriam relevantes.

Lula se manteve informado sobre a evolução da crise nas bolsas pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, e pelo próprio Meirelles. As mensagens foram tranqüilizadoras. 'Houve preocupação, mas não houve pânico. Em nenhum momento a luz amarela se acendeu', disse o auxiliar de Lula.