Título: Europa, petróleo e energia nuclear
Autor: Lapouge, Gilles
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2007, Nacional, p. A7
No momento em que George W. Bush pretende selar com o Brasil um ¿pacto energético¿, para desenvolver energias alternativas - como etanol de milho ou da cana-de-açúcar - ao petróleo, a Europa, em Bruxelas, deverá discutir o mesmo problema. Na sua próxima reunião de cúpula, presidida pela chanceler alemã Angela Merkel, os 27 países europeus se defrontarão com o ¿dossiê petróleo¿.
Sabemos que o petróleo tem dois inconvenientes: primeiro, pela sua exploração intensa (na China em particular) deve acabar se extinguindo.
Segundo inconveniente, é um grande poluidor, um dos responsáveis pelo aquecimento climático, etc. ¿Encontremos rápido uma alternativa para o petróleo!¿, essa é a palavra de ordem universal.
Há o etanol, cujo caminho foi aberto genialmente, antes de todos, pelo Brasil. Mas a Europa não pode contar muito com uma produção de etanol capaz de reduzir suas necessidades de petróleo. Continente exíguo, atravancado de montanhas, denso em termos de população, a Europa não dispõe de espaços vazios.
Como então conseguirá reduzir em 20% os gases com efeito estufa daqui até 2020, como foi decidido por resolução? É a ¿quadratura do círculo¿, que os delegados dos 27 países tentarão resolver em Bruxelas. A orientação será no sentido de um coquetel de ¿substitutos¿ para o petróleo: o etanol, sem dúvida, mas também energias mareomotriz, eólia, solar, etc.
É suficiente? Certamente não! Por isso, Jacques Chirac, que está em Bruxelas (provavelmente para sua última reunião de cúpula), colocará todo seu empenho para que a Europa desenvolva, como a França tem feito intensamente há 30 anos, a energia nuclear, não carbonada e não poluente.
Não poluente?, gritam os ecologistas se estrangulando de raiva. ¿Não poluente? E Chernobyl? E os resíduos da fissão nuclear?¿ Os ecologistas não são os únicos nesse combate antiatômico. Uma boa parte da Europa os apóia - Áustria, Irlanda. E também a chanceler Angela Merkel.
Merkel não quer ceder nada à França. Além disso ela não pode, porque o equilíbrio da grande coalizão que dirige em Berlim repousa principalmente no compromisso dos dois parceiros (os partidos CDU - União Democrática Cristã e o SPD - Partido Social Democrata) de prosseguirem com o desmantelamento das centrais nucleares existentes na Alemanha.
A aliança franco-alemã está em pleno declínio. Durante 50 anos ela dominou a União Européia, primeiro com De Gaulle/Adenauer, depois com Valery Giscard d¿Estaing e Helmut Schmidt, em seguida Helmut Kohl e François Mitterrand, e, mais recentemente, Jacques Chirac e Gerhard Schroeder. Para onde foi a bela fase de ¿eterna lua-de-mel¿ entre os dois países? Quem teria hoje a idéia de falar numa união Chirac/Merkel? Há 15 dias a crise da empresa fabricante de aviões Airbus (dominada pela França e Alemanha) demonstrou cruelmente que Paris e Berlim, em vez de marcharem de mãos dadas, se fixam mais nos seus interesses nacionais. A amizade franco-alemã perdeu importância. E mesmo que existisse ainda uma locomotiva franco-alemã, diz o analista Ulrike Guerrot, de qualquer modo não há mais vagões.
Além disso, se a relação Paris/Bonn outrora fez maravilhas foi porque a União Européia era pequena e homogênea (6 países de início e depois 12). Hoje a Europa, que se ampliou até as fronteiras da Rússia, tem 27 membros. Uma entente franco-alemã será totalmente incapaz de ditar seus desejos e suas intenções para uma União Européia tão heterogênea.