Título: Argentina terá ato anti-Bush liderado por Hugo Chávez
Autor: Guimarães, Marina
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2007, Nacional, p. A10

Embora a intenção da viagem do presidente americano à América Latina seja amistosa, segundo a Casa Branca, George W. Bush vai escutar muitos ruídos por onde passar. Porém, o maior protesto previsto não será no Brasil, Uruguai, Chile, Colômbia, Guatemala e México - países que visitará -, mas sim na Argentina. Será realizada hoje em Buenos Aires um ato ¿antiimperialismo¿, que será encabeçado pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez.

Depois de várias idas e vindas, o presidente da Bolívia, Evo Morales, decidiu não participar do ato anti-Bush. ¿O presidente definiu que não vai estar na Argentina¿, disse o diretor de Comunicações do governo boliviano, Gastón Núñez, à rádio Erbol. Segundo ele, Morales ¿não chegará a tempo¿ do Japão, onde encerrou ontem uma visita oficial de quatro dias.

Na embaixada da Bolívia, fontes explicaram que o presidente tentou antecipar sua viagem de volta do Japão, mas por ¿problemas técnicos¿, relacionados a escalas aéreas, não será possível.

O ato está sendo organizado pela famosa associação Mães da Praça de Maio junto aos líderes piqueteiros (desempregados que recebem subsídios estatais) alinhados com o governo de Néstor Kirchner. Quem paga a conta é Chávez, enquanto que a logística fica por conta de Kirchner. A presidente da associação, Hebe de Bonafini, afirma que o ato anti-Bush terá um público de 30 mil a 40 mil pessoas.

No estádio de futebol Ferro Carril Oeste, localizado em um bairro tradicional da capital argentina, Caballito, Chávez fará um duro discurso contra Bush. O presidente do Equador, Rafael Correa, também foi convidado, mas até a tarde de ontem não tinha confirmado sua participação por causa da complicada situação institucional que vive em seu país.

A segurança do ato anti-Bush será feita por 300 militares venezuelanos que acompanham Chávez e outros 1.000 piqueteiros. A entrada da força militar venezuelana na Argentina já está causando polêmica. O deputado opositor Cristian Ritondo pediu à Câmara dos Deputados explicações sobre os detalhes dessa operação.

Kirchner e Chávez vão se reunir na manhã de hoje na residência oficial de Olivos, onde terão um almoço, seguido pela assinatura de vários acordos nas áreas de energia e hidrocarbonetos entre as estatais Petroleos de Venezuela (PDVSA) e Enarsa, da Argentina. Na agenda de Chávez está prevista uma visita ao Museu da Memória, na ex-Escola de Mecânica da Armada (Esma), onde funcionou um centro de tortura da ditadura argentina (1976-83).

O presidente venezuelano também visitará uma fábrica da cooperativa produtora de lei Sancor - a maior da Argentina -, que recebeu há algumas semanas do governo venezuelano um empréstimo de US$ 135 milhões. A ajuda financeira será paga com leite em pó e tecnologia para o desenvolvimento da indústria láctea na Venezuela.