Título: Dengue: verba não contém epidemia
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2007, Vida&, p. A17
A verba para combater a dengue em todo o País aumentou, ainda que timidamente, mas o número de pessoas infectadas cresceu, e muito. O Ministério da Saúde repassou R$ 772,8 milhões aos Estados e municípios no ano passado para ações de vigilância em saúde, sendo 70% para prevenção e controle da dengue. O incremento de verba ante 2005 foi de cerca de 10%.
Mas o dinheiro a mais não surtiu o efeito desejado. O número de casos de dengue no País aumentou 25,64% nos dois primeiros meses deste ano na comparação com mesmo período do ano passado.
Segundo dados do boletim preliminar divulgado nesta semana pelo ministério, foram registrados 67.847 casos no País, dos quais 47,4% no Estado de Mato Grosso do Sul.
Para piorar, a tendência é que os números apurados pelas secretarias estaduais de Saúde já sejam muito maiores. Pelo relatório da Secretaria de Mato Grosso do Sul, por exemplo, já foram notificados neste ano 47.759 casos de dengue. Só em Campo Grande, 31 mil. A média desde o início de 2007 é de 18 novos casos por hora.
NÚMEROS DEFASADOS
Em São Paulo, a região de Araçatuba concentra 925 dos 2.921 casos confirmados até sexta-feira em todo o Estado. Seis municípios foram declarados em situação de surto epidêmico pela Secretaria de Saúde: Lins, Poloni, Ilha Solteira, Birigüi, José Bonifácio e Bebedouro.
Os números ainda deverão aumentar consideravelmente. Só em Ilha Solteira, por exemplo, o número de doentes saltou de 251 para 1.218 entre sexta-feira da semana passada e ontem. Com menos de 20 mil habitantes, a cidade se torna o município com maior número de doentes em todo Estado, levando o Hospital de Base local ao limite de atendimento de pacientes com sintomas da doença. 'Estamos fazendo tudo que podemos, com mutirão e até o uso do Corpo de Bombeiros para acabar com os criadouros do mosquito transmissor, mas está difícil', diz a enfermeira Maira Regina da Silva Rubia, responsável pelos serviços de vigilância epidemiológica e sanitária de Ilha Solteira.
Em Birigüi, o número de casos saltou de 239 para 521 e há suspeita de que duas mortes tenham sido causadas por dengue. No ambulatório do único hospital da cidade, quase 70% dos pacientes que chegam têm sintomas da doença.
Em Bebedouro, com 456 doentes, foi diagnosticado o primeiro caso do tipo hemorrágico, num rapaz de 21 anos, que teria contraído a doença no Rio.
Em Campinas o número de casos dos dois primeiros meses do ano aumentou 733% em comparação com os dados de 2006. Em janeiro e fevereiro do ano passado, foram registrados 27 casos da doença. Este ano houve 225 ocorrências.
Nenhum caso de morte foi registrado até o momento, mas a Secretaria de Saúde registrou duas ocorrências de dengue hemorrágica, a modalidade mais grave da doença. No ano passado não houve nenhuma notificação deste tipo da doença.
Em Hortolândia, entre janeiro e fevereiro 104 pessoas foram infectadas. Em todo o ano passado, houve 281 casos confirmados na cidade.
A Secretaria Estadual de Saúde do Maranhão contabiliza 2.611 notificações de dengue nos 217 municípios do Estado, sendo 55 referentes a dengue hemorrágica.
SURTO ANUNCIADO
O forte surto de dengue no País, com salto expressivo já no primeiro bimestre, não deveria pegar de surpresa as autoridades.
Em novembro, um levantamento do Ministério da Saúde já mostrava que 52% da população de 170 cidades - mais de 36 milhões de pessoas - mora em áreas com risco efetivo de uma epidemia durante o verão.
O Orçamento federal para ações de vigilância em saúde em 2007 prevê R$ 821,5 milhões, que serão repassados mensalmente para os fundos de saúde dos governos estaduais e municipais.