Título: PC do B vai deixar aliança se Marta se unir a Maluf
Autor: Oliveira, Clarissa
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/03/2007, Nacional, p. A14

O PC do B, aliado tradicional do PT, deverá retirar o apoio aos petistas na eleição municipal do ano que vem, caso o partido concretize uma aliança com o PP de Paulo Maluf. Diante da notícia revelada pelo Estado de que a união de forças foi tema de um jantar entre Maluf e o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), a presidente do PC do B paulista, Nádia Campeão, advertiu que seu partido não se colocará como aliado do ex-prefeito. ¿Esta circunstância de aliança entre PT e Maluf praticamente afasta qualquer possibilidade de mantermos uma aliança para a prefeitura em 2008¿, disse Nádia. ¿Esse movimento do PT para o centro e para a direita, eles vão fazer sozinhos.¿

Em eleições anteriores, Maluf já declarou apoio à petista Marta Suplicy, candidata natural à prefeitura no ano que vem caso não assuma um ministério no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O PP, no entanto, nunca integrou uma coligação formal com o PT. No jantar de quarta-feira, Maluf e Vaccarezza teriam cogitado inclusive a possibilidade de um representante do PP ocupar a posição de vice, uma vaga que em diversas eleições ficou nas mãos de um comunista. No ano passado, a própria Nádia foi candidata a vice-governadora na chapa do senador Aloizio Mercadante.

A possibilidade de uma aliança com o PP também foi mal recebida por outro aliado tradicional do PT, o PSB. O partido não apoiou Marta em 2004, tendo lançado a deputada Luiza Erundina. Mas, de acordo com ela, o jantar ajuda a comprovar a perda de identidade do PT. ¿Isso é ruim para a cultura política do País e indica o quanto o PT se distanciou de suas origens¿, afirmou Erundina. O presidente estadual do PSB, deputado Márcio França, preferiu ironizar o caso. ¿Espero que, diante disso, o PT peça desculpas a Maluf por tudo o que falou sobre ele¿, disse.

Ontem, diversos petistas tentaram amenizar a polêmica em torno do jantar. ¿A informação que eu tenho é que o conteúdo da conversa não teve nada a ver com isso¿, disse o presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini, acrescentando que os dois parlamentares têm o direito de debater temas políticos, mas que somente as instâncias partidárias definem alianças.

¿RESISTÊNCIA¿

O presidente municipal do PT, Paulo Fiorilo, afirmou que a eleição de 2008 ainda não está na pauta do partido e insistiu em que, se estivesse, não caberia a Vaccarezza conduzir uma negociação como essa. ¿O Vaccarezza não é mandatário para fazer essa conversa.¿ Fiorilo afirmou ainda que, em sua opinião, uma união entre PP e PT seria pouco viável, em função da ¿resistência que haveria na base partidária¿.

Alguns aliados de Marta evitaram falar abertamente sobre o tema. Em reservado, se queixaram do fato de Vaccarezza ter tratado do assunto com Maluf e disseram que o deputado petista caiu em uma ¿arapuca¿ montada pelo ex-prefeito. O senador Eduardo Suplicy, entretanto, se disse ¿surpreso¿ com o episódio. ¿Todos temos consciência de que há muitas diferenças entre a trajetória do deputado Paulo Maluf e a do PT¿, afirmou o petista.

Ontem à tarde, Vaccarezza negou ter conversado sobre a sucessão municipal com Maluf. Apesar de a discussão ter sido ouvida nas mesas ao lado, o petista insistiu em que tratou apenas de assuntos relacionados à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e à reforma política. ¿A pessoa que relatou essa conversa não foi fidedigna¿, disse Vaccarezza. Questionado sobre se é favor da aliança, o deputado afirmou apenas que acredita que ¿toda a base aliada¿ deve se unir na campanha municipal.

Marta preferiu não conversar sobre o caso com jornalistas e divulgou nota sobre o assunto (leia nesta página). Também em nota, o reitor da Uniban, Heitor Pinto Filho - que teria sido citado por Maluf como um possível vice na chapa -, disse não manter contato com o pepista há anos e negou a intenção de disputar a eleição. Procurado durante o dia todo, Maluf não foi encontrado para comentar as informações.