Título: Efeito China torra R$ 70 bi na Bolsa
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/03/2007, Economia, p. B1

A turbulência desta semana nos mercados globais `queimou¿ mais de R$ 70 bilhões na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), o equivalente a um Bradesco, o maior banco privado do País. Esse número é resultado da diferença do valor de mercado somado das 355 empresas com ações negociadas na Bolsa entre os dias 23 de fevereiro e 1º de março.

Na última sexta-feira de fevereiro, juntas, as empresas valiam R$ 1,62 trilhão. Quinta-feira, o valor havia caído para R$ 1,55 trilhão. Os dados são da própria Bovespa. Por razões técnicas, o cálculo não pôde ser atualizado até ontem. Mas, como o Ibovespa recuou 2,64%, é certo que que as perdas são maiores.

O fenômeno não é exclusividade brasileira. O banco de investimentos americano Morgan Stanley calcula que as perdas no planeta tenham alcançado US$ 1,5 trilhão nesta semana. A instituição tem um índice de capitalização de mercado calculado com base no vaivém das bolsas de 48 países, entre eles Brasil, Rússia, Índia e China.

As fortes oscilações começaram terça-feira, quando a Bolsa de Valores de Xangai despencou 8,8%. As quedas se propagaram para o resto do planeta. O Ibovespa, por exemplo, despencou 6,63% naquele dia.

Ainda que em menor intensidade, a onda de desvalorização continuou ao longo da semana. No caso da bolsa brasileira, o recuo acumulado entre segunda-feira e ontem chegou a 7,92%. O Índice Dow Jones, o mais importante da Bolsa de Nova York, apurou queda semanal de 4,22%, a pior em quatro anos.

Segundo analistas, essas perdas se refletem diretamente no bolso dos investidores. ¿Quem vendeu papéis esta semana por um valor inferior ao que comprou perdeu dinheiro¿, explicou Fernando Exel, presidente da empresa de informações financeiras Economática. ¿Quem não vendeu não realizou o prejuízo. Mas, se for fazer um inventário do patrimônio, estará claro que ficou mais pobre.¿

Nenhum especialista se arrisca a estimar um prazo para o fim das turbulências. Em compensação, a maioria acredita que serão passageiras. ¿O mais importante é que não houve mudança estrutural nos fundamentos da economia mundial, que se mantêm positivos¿, afirmou Marcelo Assalin, diretor da SulAmérica Investimentos.

Ures Folchini, vice-presidente de Tesouraria do Banco WestLB do Brasil, concorda. ¿Em maio do ano passado (quando o mercado também foi tomado por uma onda de nervosismo), havia desconfiança sobre a saúde da economia mundial. Hoje, é diferente¿, disse. ¿Os mercados estavam muito alavancados. Qualquer ativo que olhávamos estava num nível de valorização recorde.¿

Ele observa que o momento atual não deve ser qualificado como crise, mas como ¿correção de ativos¿.