Título: Lula diz que equipe econômica 'está blindada pelo sucesso'
Autor: Rila, Luiz
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2007, Nacional, p. A4

No momento em que os mercados financeiros passam por turbulência e a política monetária conduzida pelo Banco Central enfrenta críticas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assegurou ontem que não haverá mudanças na equipe econômica. ¿A área econômica está blindada pelo sucesso dela¿, disse ele, sem citar o nome de nenhum integrante do primeiro escalão, mas deixando claro que serão mantidos o presidente do BC, Henrique Meirelles, e os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Paulo Bernardo.

A afirmação foi feita por Lula no Palácio do Planalto, durante café da manhã com um grupo de 11 jornalistas. Ao longo de uma hora e meia, ele conversou sobre temas administrativos, assuntos políticos e até questões pessoais, sempre num tom otimista e buscando caracterizar seu governo como ponto alto da história nacional. Disse, por exemplo, que o País vive uma fase especial: ¿Desde a proclamação da República, os fundamentos da economia não estavam tão sólidos.¿

Lula apontou o elevado nível de reservas monetárias como uma garantia de que o Brasil está pronto para resistir às oscilações dos mercados financeiros. Ele lembrou da viagem que fez à Índia, em janeiro de 2004, quando ficou admirado ao saber que as reservas daquele país somavam cerca de US$ 100 bilhões. ¿Naquela ocasião, fiquei pensando: será que algum dia teremos US$ 100 bilhões?¿, recordou. ¿Taí, nossas reservas agora estão em US$ 100 bilhões. Isso é uma conquista.¿

Não há ¿solução mágica¿ para destravar o País, repetiu mais uma vez o presidente, que considerou superados os tempos em que a política econômica sofria periodicamente guinadas bruscas. ¿Durante décadas, fomos irresponsáveis. Agora não custa nada sermos responsáveis por pelo menos uma década¿, disse. ¿Sou eu que me exponho e ninguém mais do que eu quer andar de cabeça erguida pelo mundo. O Brasil começa a ser visto como um país sério. Estamos a um fio de chegar lá.¿

Indagado sobre o crescimento de apenas 2,9% do Produto Interno Bruto (PIB) registrado pelo País no ano passado, admitiu novamente que o desempenho foi aquém do que ele desejava. Mesmo assim, assegurou que o Brasil está no rumo certo. Admitiu que o desenvolvimento foi bem mais acelerado em pelo menos dois períodos históricos - durante o governo Juscelino Kubitschek e ao longo do regime militar. ¿Mas não houve distribuição de renda¿, frisou. ¿Agora as bases sociais estão colocadas para um crescimento com mais responsabilidade social.¿

Em tom de piada, o presidente voltou a se queixar da herança econômica deixada pelo antecessor, Fernando Henrique Cardoso. Disse que procura administrar da melhor forma possível as fragilidades que encontrou. ¿Herdamos a viúva, com os filhos e os problemas. Só não veio o ex-marido¿, afirmou, provocando risos.

Lula reafirmou a intenção de, no novo mandato, ampliar as despesas do governo, mas garantiu que não fará isso de forma irresponsável: ¿Não vou gastar mais, vou investir mais.¿ Ele propôs uma comparação para deixar clara a distância entre as duas atitudes: seria a diferença entre pagar aluguel e comprar a casa própria. ¿No começo da vida, eu alugava uma casinha no Moinho Velho, lá em São Paulo. Pagava algo como R$ 100 e esses R$ 100 não voltavam mais¿, contou. ¿Depois, consegui um dinheiro e comprei uma coisinha no Parque Bristol. Foi investimento numa coisa minha.¿

A avaliação do presidente é que o governo acabou sendo beneficiado por ter, a contragosto, adiado de dezembro para janeiro o lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). ¿Se tivesse sido lançado antes da virada do ano, o PAC seria passado. Do jeito que foi, ele virou futuro¿, avaliou.