Título: 'País está pronto para aprender e ensinar'
Autor: Rila, Luiz e Porto, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2007, Nacional, p. A5

A Petrobrás, segundo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, deve se preparar para desempenhar papel primordial na construção de um mercado global de etanol. ¿A Petrobrás vai ter que entrar nisso. Precisamos ter um mecanismo regulador para garantir o abastecimento¿, disse ontem o presidente, durante café da manhã com jornalistas, no Palácio do Planalto. ¿Não é possível, por exemplo, fechar um acordo com o Japão e faltar etanol nos postos japoneses porque não houve produção¿, justificou.

O presidente não detalhou como seria a atuação da Petrobrás, mas é de se supor que caberia à estatal firmar contratos com os produtores de álcool capazes de garantir o abastecimento, a despeito das oscilações de preço do açúcar - problema que ocorre no Brasil.

Lula apontou como prioridade nas relações com os Estados Unidos a parceria para a produção de biocombustíveis e confirmou que esse será o ponto central do encontro que terá na semana que vem com o presidente dos EUA, George W. Bush. ¿Está provado que o mundo não precisa ficar dependente do petróleo¿, destacou.

No jargão dos especialistas do setor energético, Lula disse que ¿a mudança da matriz¿ - a troca do petróleo pelo álcool - poderá servir para acelerar o desenvolvimento das regiões mais pobres do planeta. Ele afirmou que tentará convencer o presidente Bush a estimular o plantio de cana-de-açúcar na África e no Haiti e lembrou que nos EUA o álcool é produzido a partir do milho. Garantiu que pedirá ao colega americano: ¿Vamos deixar o milho para as galinhas, Bush!¿

Os Estados Unidos foram apontados por Lula como um parceiro estratégico. Para ele, o momento é favorável. ¿Os EUA cometeram o erro histórico de, durante muito tempo, não darem atenção à América Latina¿, declarou. ¿E o Brasil cometeu o erro de ser subserviente durante décadas. Nenhum interlocutor respeita a subserviência.¿ Agora, segundo o presidente, o País está pronto para aprender com os Estados Unidos, mas também para ensinar.

MENOS TARIFAS

Em meio à perspectiva de um acordo sobre biocombustíveis, o setor produtor de álcool pediu ontem a Lula que interceda junto a Bush para o fim das barreiras comerciais sobre o etanol brasileiro. Incide sobre o combustível exportado para os EUA uma tarifa de US$ 0,54 por galão - ou R$ 0,30 por litro - e imposto de 2,5%. Na terça-feira, o chanceler Celso Amorim já havia tocado no assunto, dizendo que os tributos terão de ser reduzidos e que o assunto estará na mesa de negociações.

¿É importante que o presidente possa transmitir a Bush essa nossa vontade inabalável de abertura. O mercado de petróleo e de derivados é feito em livre comércio e nós não podemos aceitar que o comércio de etanol seja feito nos moldes do século 19, com proteção de mercado, como acontece hoje¿, disse Eduardo Pereira de Carvalho, presidente da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), que representa os usineiros do Centro-Sul do Brasil, responsáveis por 70% da produção de álcool no País.

O Brasil exportou para os americanos 2 bilhões dos 3,5 bilhões de litros de álcool enviados ao exterior em 2006. O País produz 18 bilhões de litros de combustível a partir da cana e só perde para os Estados Unidos, que processa 20 bilhões de litros de álcool de milho.

Indagado se o setor sucroalcooleiro iria priorizar o mercado externo de álcool caso as tarifas para os Estados Unidos fossem zeradas, Carvalho afirmou que a prioridade do setor é o mercado interno. ¿Tudo que exportar será o excedente do mercado interno. Nada acontece do dia para noite e temos capacidade de produzir para os mercados que precisarem.¿