Título: EUA têm imagem negativa no Brasil
Autor: Manzano Filho, Gabriel
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2007, Nacional, p. A7

A América Latina que aguarda a visita do presidente americano George W. Bush, na semana que vem, está longe de ser, para ele,um grande programa. Uma recente pesquisa da BBC inglesa revela que 64% dos argentinos, 57% dos brasileiros, 53% dos mexicanos e 51% dos chilenos dizem ter ¿uma visão predominantemente negativa¿ da influência dos EUA no continente.

Bush vai encontrar nos cinco países que visitará - Brasil, Uruguai, Colômbia, Guatemala e México - ¿uma audiência tão ressentida com sua recente falta de interesse¿ quanto estava, antes, ¿pelo ativismo interesseiro¿ com que os EUA apoiaram tantas ditaduras pelo continente.

A avaliação é da revista britânica The Economist, que dedica esta semana um editorial e duas reportagens à passagem de Bush pelo continente. Mas há também boas coisas à sua espera, diz a revista. Se o governante é malvisto, os Estados Unidos continuam sendo para milhões de pessoas uma terra de oportunidades com a qual haveria muito a ganhar.

Dois desses países, Uruguai e México, servem como exemplo: embora Bush só tenha 12% de simpatizantes no Uruguai, nada menos que 60% da população local aprova a idéia de um tratado comercial com os EUA. E no México o grande assunto a discutir com o presidente Felipe Calderón é imigração - ou seja, a vontade e necessidade de milhões de mexicanos de irem para os EUA arrumar trabalho.

A revista desfia seguidos conselhos ao presidente americano. Primeiro, que ¿a pior coisa¿ que ele poderia fazer seria ¿falar demais sobre a Venezuela¿, o que desataria os queixumes habituais contra ¿a petulância ianque¿. Segundo, se ele souber oferecer a ajuda de que os países precisam, ¿dará aos latino-americanos o senso de parceria que falta no presente¿, quando os EUA ¿estão presos a uma batalha por influência¿ com o rival venezuelano Hugo Chávez. ¿Se ele representa perigo, é para o resto da América Latina, onde suas idéias simplistas são às vezes populares¿, diz a revista. ¿São estes governos que estão melhor situados para conter essa influência.¿

Numa escassa referência ao presidente Lula, diz que ele ¿afirma que silenciosamente pede moderação ao seu colega venezuelano, mas não há evidência de que isso esteja mudando sua direção¿.

O presidente americano tem que levar em conta, ainda, que há um quarto grande país latino - além de Brasil, Colômbia e México - nesse programa: os 43 milhões de hispânicos que vivem nos Estados Unidos, dos quais 66% são favoráveis à imediata volta dos soldados americanos que estão no Iraque.

A revista cobra ainda de Bush que ¿pare de ajudar Fidel¿ - ou seja, que desista do bloqueio econômico contra Cuba, atitude que justifica o radicalismo ideológico de líderes como Hugo Chávez. Bush poderia ser tolerante com ¿um país que não mais representa qualquer ameaça¿ aos americanos. Se os EUA querem ¿um hemisfério conduzido por democratas favoráveis ao mercado, deveriam dar à região toda ajuda de que ela precisa e abrir caminho para sua prosperidade¿.

Na análise sobre a ¿diplomacia do etanol¿, a Economist lembra que os EUA precisam de uma produção sete vezes maior que a de hoje, para alcançar os 35 bilhões de galões que programou para 2017 - e não há no país milho suficiente para isso. A saída, portanto, é incentivar países vizinhos a produzi-lo, e não só o Brasil, mas a Colômbia e países do Caribe.