Título: Comandante da Marinha critica retenção de verba
Autor: Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2007, Nacional, p. A11

O novo comandante da Marinha, almirante Julio Soares de Moura Neto, assumiu ontem o cargo criticando o contingenciamento, feito pela equipe econômica, dos recursos de royalties de petróleo reservados à Força. O almirante advertiu que a Marinha está ¿perdendo a capacidade operacional¿ por não ter recebido a totalidade dos recursos de royalties para se reequipar. Caso essa tendência seja mantida, alertou o comandante, a situação da Força, hoje ¿insustentável¿, poderá piorar ainda mais.

De acordo com Soares de Moura, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já foi advertido sobre a precariedade da Força e se mostrou ¿sensível¿ ao pleito. Os royalties contingenciados somam R$ 2,6 bilhões.

A Marinha deixou clara a sua insatisfação não só no discurso do novo comandante, como também na fala de despedida do almirante Roberto Guimarães de Carvalho, que foi ainda mais incisivo nas queixas.

¿A Marinha que estou passado a Vossa Excelência não é a que eu gostaria de passar, mas a que foi possível manter. Que os ventos lhe sejam mais favoráveis e o estado do mar, mais tranqüilo¿, desabafou Carvalho, informando que, em todas as oportunidades, avisou aos ministros e ao presidente sobre as necessidades de reequipamento da Força. Acentuou que, em mensagem enviada em dezembro, Lula prometeu o aporte de recursos necessários. ¿Mas é preciso que as esperanças se transformem em realidade¿, completou.

O ex-comandante aproveitou para reclamar também do salário dos militares. Segundo ele, apesar de reajustes concedidos acima da inflação, não foi possível recuperar as perdas acumuladas. Salientou que hoje os militares têm a menor remuneração média, quando comparada à dos integrantes de várias outras carreiras do Estado, ¿o que necessita ser progressivamente corrigido¿.

APLAUSOS

Os discursos de ambos foram muito aplaudidos pelos militares presentes e objeto de comentários no coquetel de confraternização. Os oficiais faziam questão de cumprimentar seus comandantes pelas palavras.

O ministro da Defesa, Waldir Pires, que ouviu atentamente aos dois pronunciamentos, declarou, em fala à tropa: ¿Seremos companheiros destas aspirações.¿ Depois, em entrevista à imprensa, ao lado do novo comandante da Marinha, garantiu: ¿Serei uma voz dentro do governo favorável à liberação dos recursos. Sou favorável a que nós tenhamos os royalties para podermos fortalecer a proteção do Atlântico Sul.¿

De acordo com o comandante, basta a liberação dos R$ 2,6 bilhões dos royalties, que são por direito da Marinha, para que o plano de reequipamento da Força saia do papel. ¿Se nós não revertemos esse quadro, os meios irão se degradar, porque os orçamentos têm sido sempre aquém do necessário e não se consegue, então, repor os equipamentos¿, desabafou. O almirante frisou que a sua prioridade será a implementação do Plano de Reaparelhamento da Marinha, estimado em R$ 5 bilhões, ao longo de dez anos.

¿O Brasil requer uma Marinha corretamente dimensionada e equipada e apta a cumprir efetivamente o seu dever, como e quando for demandado pela vontade nacional¿, afirmou Soares de Moura. ¿Para tal, é necessário alocar recursos e meios indispensáveis para que possa atuar na vigilância e na proteção dos nossos vastos interesses e soberania¿, declarou, no discurso. ¿Infelizmente, não é o que vem ocorrendo.¿

Mesmo reconhecendo que, a partir de 2004, a Marinha recebeu um pouco mais, ele avisa que ¿o orçamento tem ficado aquém do que é preciso, impossibilitando a disponibilização de valores suficientes ao funcionamento, preparo e aparelhamento, acarretando a perda da capacidade operacional¿.

Ele previu: ¿Em médio prazo, caso seja mantida essa tendência, a situação tornar-se-á crítica, provocando o esgotamento da vida útil de numerosos meios, com a sua conseqüente baixa.¿