Título: Bin Laden ainda orienta Taleban
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Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2007, Internacional, p. A12
Osama bin Laden, líder da rede terrorista Al-Qaeda, está vivo e mantém contato com os líderes do Taleban no Afeganistão, disse, numa rara entrevista, um dos principais comandantes dos rebeldes afegãos, mulá Dadullah. Ele declarou à rede de TV britânica Channel 4, que não se reúne pessoalmente com Bin Laden desde a deposição do Taleban pelas forças internacionais lideradas pelos EUA em 2001. Mas afirmou que troca mensagens com o terrorista saudita. ¿Somente seus camaradas o vêem. Trocamos mensagens para compartilhar planos¿, disse Dadullah na entrevista, divulgada na quarta-feira.
Dadullah disse que o líder da Al-Qaeda - que, acredita-se, estaria na fronteira com o Paquistão - raramente se reúne com pessoas estranhas. ¿Na verdade, é difícil para qualquer um encontrar-se pessoalmente com Bin Laden, mas sabemos que ele ainda está vivo e não se transformou em mártir¿, disse Dadullah, comandante de operações de combate do Taleban no leste e sudeste do Afeganistão. O Channel 4 não informou como obteve a entrevista.
Em relação à atual ofensiva da Otan para tentar conter o Taleban, Dadullah advertiu que os americanos ¿colherão durante muito tempo, tanto no Afeganistão como em outras partes, o que semearam¿. ¿São incontáveis os que querem ser mártires suicidas. Centenas e centenas se inscrevem na lista de espera (para atacar as forças da Otan). Cada um deles está ansioso para ser o primeiro¿, disse.
Questionado sobre se não lamenta o fato de o apoio a Bin Laden ter custado a deposição do Taleban, Dadullah afirmou que não, acrescentando que, para os taleban, ¿o Islã é mais importante que todo o resto¿, até mesmo o poder. ¿É nosso dever religioso dar asilo a qualquer um que fuja dos infiéis¿, afirmou.
O Pentágono espera para os próximos meses uma ampla ofensiva do Taleban, mais agressiva que a empreendida em 2006, quando mais de 4 mil pessoas - um quarto civis - morreram. ¿No verão passado (no Hemisfério Norte, entre junho e setembro), os taleban lançaram uma sangrenta campanha contra as forças afegãs e internacionais e contra civis afegãos¿, lembrou ontem Eric Edelman, subsecretário de Defesa para assuntos políticos, durante declarações à comissão da Forças Armadas. ¿Esperamos um aumento da violência durante a primavera (entre março e junho)¿, disse, acrescentando: ¿Nossos inimigos são tenazes.¿ O general Douglas Lute, diretor de operações do Estado-Maior, também disse que a ameaça dos taleban é maior hoje do que há um ano.
Na quarta-feira, o comandante taleban mulá Hayatullah Khan disse que há 2 mil homens-bomba prontos para atacar as forças da Otan e dos EUA no Afeganistão. Ele também informou que mil suicidas já foram enviados à relativamente calma região norte do Afeganistão.
PRESSÃO
Na segunda-feira, o vice-presidente americano, Dick Cheney, fez uma incomum pressão sobre o presidente paquistanês, Pervez Musharraf, aliado dos EUA em sua luta contra o terror. Cheney disse que o Paquistão tem de adotar ações mais duras contra os militantes da Al-Qaeda e do Taleban que, segundo a inteligência dos EUA, estão refugiados nas áreas tribais na fronteira com o Afeganistão.
No mesmo dia, Cheney seguiu para a principal base dos EUA no Afeganistão, na Província de Bagram, e na terça-feira escapou ileso de uma suposta tentativa de assassinato. O Taleban assumiu a autoria do atentado a bomba contra a base e disse que Cheney era o alvo. Questionou-se como o Taleban sabia da presença do vice-presidente na base (que era mantida em segredo) e especulou-se que o ataque pode ter sido apenas uma coincidência.
O Paquistão prendeu o ex-ministro da Defesa do governo taleban mulá Obaidullah Akhund, considerado uma das principais figuras do movimento rebelde, revelou ontem anonimamente um funcionário da inteligência paquistanesa. Akhund teria ligações com o foragido mulá Omar, líder do Taleban. Ele é o mais importante membro do Taleban capturado desde a invasão liderada pelos EUA, em 2001.