Título: Bolsas mundiais têm mais um dia de nervosismo
Autor: Pereira, Renée e Caminoto, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2007, Economia, p. B1

As bolsas internacionais tiveram ontem mais um dia de volatilidade. Como na terça-feira, o movimento foi desencadeado pela queda do mercado chinês e só não foi pior por causa da divulgação de indicadores americanos acima das previsões dos analistas. Mas os investidores continuam atentos ao risco.

No Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) acompanhou de perto a movimentação americana. No período da manhã, chegou a cair mais de 4%, mas conseguiu se recuperar e terminou o dia com recuo de 0,86%. Em Wall Street, a Nasdaq e o Dow Jones atingiram quedas de 2,18% e 1,61%, respectivamente, mas reduziram a desaceleração e fecharam em baixa de 0,49% e 0,28%.

Analistas preferem não fazer previsões sobre a duração dessa turbulência iniciada na terça-feira com a queda de quase 9% da Bolsa de Xangai por causa de temores sobre mudanças no mercado de capitais. Ficou claro que os investidores estão confusos sobre a direção do mercado. A diretora do fundo de investimentos Insight, Ingrid Iversen, disse que está difícil ¿ler¿ os mercados. ¿Todo mundo acordou hoje (ontem) com uma conversa positiva, mas agora virou sem uma causa clara.¿

Na avaliação do economista da MCM Consultores Antonio Madeira, os rumores na China esta semana foram a gota d¿água que faltava para encher o copo. ¿Há muita preocupação com os rumos da economia americana¿, observou. Segundo ele, o movimento ontem seguiu a divulgação de dados americanos, com resultados para todos os gostos. Os números sobre gastos e renda dos americanos trouxeram certo alívio ao mercado, sugerindo sustentação da economia dos EUA, mas o índice de preços (PCE), que exclui alimentos e energia, incomodou. O indicador subiu 0,3% ante expectativas de alta de 0,2%.

Para o economista da GAP Asset Management Alexandre Maia, a volatilidade das bolsas mundiais nos últimos dias é resultado da combinação de alguns fatores, como o temor de um pouso forçado nos EUA, aliado a um desaquecimento econômico na China, com impacto nos países emergentes e nas commodities, além da tensão geopolítica em torno do programa nuclear iraniano. Na avaliação do economista do Banco Banif de Investimentos Marco Maciel, essas incertezas levam a uma recomposição de portfólios, que pode durar uma semana inteira.

Para alguns analistas, outra explicação para a volatilidade de ontem foi a desmontagem de operações de carregamento (carry trade) nas quais são contraídos empréstimos com uma moeda de um país com juros baixos, como o iene japonês ou o franco suíço, para investir em mercados com retornos mais graúdos, como o real brasileiro e a lira turca.

Para o estrategista-chefe do banco Danske, Teis Knuthsen, esse movimento, em algum momento, vai acalmar. ¿O carry trade é uma estratégia que sobe a escada devagar, salta ocasionalmente da janela e então começa a subir a escada novamente.¿

INCERTEZAS

Ingrid Iversen Diretora do Fundo Insight

¿Todo mundo acordou com uma conversa positiva, mas virou sem uma causa clara¿

Antonio Madeira Economista da MCM

¿Há muita preocupação com os rumos da economia americana¿

Teis Knuthsen Estrategista Banco Danske ¿Em algum momento isso vai acalmar¿