Título: Brasil fica em 59º no ranking de competitividade em turismo
Autor: Barbosa, Mariana
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2007, Negócios, p. B18

Carga tributária elevada, violência e deficiências de infra-estrutura tiram a competitividade da indústria brasileira de turismo. É o que mostra o primeiro ranking mundial de competitividade das indústrias de viagem e turismo, elaborado pelo Forum Econômico Mundial. De uma lista de 124 países, o Brasil ficou em 59º lugar - atrás de países muito menores, como Bahrein (47º) e Uruguai (56º). No topo da ranking figuram Suíça, Áustria, Alemanha, Islândia e Estados Unidos.

Para avaliar que países oferecem um ambiente mais atraente para o crescimento do setor, o Fórum levou em conta questões ligadas a marco regulatório, infra-estrutura de transportes e recursos humanos, entre outras. ¿A pesquisa não é um concurso de beleza e muito menos uma opinião a respeito das atrações dos países¿, disse Jennifer Blanke, economista sênior da Rede de Competitividade Global do Fórum ontem em Berlim, no lançamento do ranking. ¿Queremos medir os fatores que impulsionam o desenvolvimento dessa indústria.¿

O ranking foi questionado pelo Ministério do Turismo, que defendeu, em nota, ¿um estudo mais aprofundado, especialmente no que se refere aos critérios pesquisados e aos pesquisadores, que são diferentes em cada País, o que pode comportar eventuais distorções¿. O ministério lembra ainda que o setor no Brasil vem crescendo acima da média mundial e que, recentemente, a Organização Mundial de Turismo (OMT) apontou o País como o 36º destino mais visitado do mundo.

¿Temos uma competitividade média e isso não é pouca coisa¿, avalia Letícia Costa, presidente no Brasil da Booz Allen Hamilton, consultoria responsável por elaborar a pesquisa em parceria com o Fórum. ¿Claramente o Brasil exibe fatores muito positivos, mas há muitas áreas que precisam ser trabalhadas.¿

Na opinião dela, o Brasil é ¿inerentemente atraente¿ como destino turístico. ¿Mas perde pontos no ranking em questões como segurança, impostos e infra-estrutura, que travam não só o turismo como o Brasil¿, diz Letícia. ¿Todos sabem qual é o problema. Falta atacá-lo.¿

O Brasil ficou nada menos do que em último lugar no quesito carga tributária. Já os custos da criminalidade e da violência para os negócios colocaram o País no 111º lugar. Elaborado com dados referentes ao ano de 2005, o ranking aponta problemas e deficiências em infra-estrutura rodoviária (96º lugar), portuária (88º) e ferroviária (81º). Já a infra-estrutura de transporte aéreo fica na 28ª posição. ¿Como ocorreu no final do ano passado, o apagão aéreo não foi capturado pela pesquisa¿, diz Letícia.

O Brasil é tido como um país fechado em termos de regulamentação: ficou em 89º lugar em termos de exigências de visto; e em 81º em restrições ao investimento estrangeiro direto.

O País é líder mundial em apenas dois quesitos: presença de locadoras de automóveis e trabalhadores no setor turístico com nível de escolaridade de segundo grau. ¿Esse nível de escolaridade mostra que a indústria tem sido seletiva ao contratar¿, avalia Letícia Costa. Em contrapartida, a baixa qualidade do sistema educacional coloca o País na 114ª posição. ¿Isso significa que se o País e o setor crescerem de forma significativa, não haverá gente qualificada.¿

O País está bem posicionado em alguns aspectos ligados a infra-estrutura de telecomunicações, como uso de internet por parte das empresas do setor (23ª posição); e fica na média em outros, como usuários de internet (58º) e linhas telefônicas (55º).

O estudo leva ainda em conta a quantidade de sítios naturais ou culturais considerados patrimônio da humanidade, mas não entra no mérito do estado de conservação. Com 17 patrimônios, como Fernando de Noronha, Brasília e Ouro Preto, o Brasil ocupa a 11ª posição neste quesito.

A indústria de viagens e turismo no Brasil gerou uma receita de US$ 25 bilhões em 2005 e a previsão do Fórum é de uma taxa de crescimento de 3% ao ano até 2016. Apesar dos problemas, o Brasil tem batido recordes em termos de divisas geradas com estrangeiros. Em 2006, os turistas deixaram US$ 4,3 bilhões, crescimento de 11,7% em relação a 2005.