Título: China reduz meta de crescimento e faz novo estrago nos mercados
Autor: Vicentini, Paulo
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/03/2007, Economia, p. B1

O primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, anunciou ontem uma meta de 8% para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2007, o que representa uma desaceleração em relação aos últimos anos. Em 2006, a expansão chinesa alcançou 10,7%. As declarações, na abertura da Assembléia Popular Nacional (APN), reforçaram as incertezas no mercado financeiro e provocaram nova rodada de quedas nas bolsas de valores mundiais (ler mais abaixo).

O Índice Bovespa (Ibovespa) caiu 2,81% e já acumula perdas de 10,8% desde o início das turbulências, na terça-feira passada. A Bolsa de Xangai recuou 1,6%, o Índice Dow Jones desvalorizou 0,53% e a Nasdaq, 1,15%.

Wen defendeu a busca de um crescimento qualitativo, prometeu apertar o cerco contra a corrupção no setor imobiliário e mandou dois recados àqueles que nutrem um forte apetite pelos investimentos de alto risco: o governo reforçará a supervisão do mercado acionário e elevará a confiabilidade das empresas listadas nas bolsas.

Para Liu Jiping, analista do Shanghai Securities News, o saldo do discurso é positivo para o mercado no médio e longo prazos, mas deverá manter os investidores em estado de alerta em relação aos próximos passos da APN. 'O primeiro-ministro renovou o compromisso de longo prazo do governo com a boa governança e a ampliação da transparência das transações nas bolsas. Foi um passo necessário para preservar a confiança dos investidores.'

O governo da China já adotou diversas medidas para tentar frear o crescimento econômico. Há um ano, o banco central do país elevou a taxa básica de juros pela primeira vez em um ano e meio - de 5,58% para 5,85% ao ano. Há duas semanas, o BC chinês subiu os depósitos compulsórios de 9,5% para 10%.

Apesar desses esforços, a expansão tem superado as expectativas, algo que deve se repetir neste ano. O chefe do Escritório de Pesquisas do Cenário Econômico da Comissão de Nacional de Reforma e Desenvolvimento (NRDC, na sigla em inglês), Wang Xiaoguang, afirmou que 'a economia deverá crescer 10% neste ano'. 'Wen não foi incisivo sobre a diminuição do ritmo de expansão dos investimentos, um dos motores de nossas altas taxas de crescimento. Ele destacou apenas a necessidade de elevar a qualidade dos projetos', disse ao Shanghai Securities News.

O vice-diretor do Centro de Pesquisas e de Desenvolvimento do Conselho de Estado, Liu Shijin, concorda. 'O PIB deverá crescer acima dos 9% em 2007. Estamos reajustando gradualmente a política macroeconômica, especialmente em relação aos graves desequilíbrios da balança comercial', destacou.

INSUSTENTÁVEL

Para analistas, a economia chinesa realmente necessita de um ajuste. 'A taxa de investimento, entre 40% e 45% do PIB, é um exagero', afirmou Paulo Tenani, chefe de pesquisa para América Latina do UBS Wealth Management. 'Há risco desse investimento não ser produtivo.' Segundo Tenani, a China precisa alocar melhor seus recursos para ser mais eficiente.

Sergio Vale, da MB Associados, avalia que a China está mudando o mix de sua expansão, com menos participação do investimento e aumento da parcela do consumo. 'Durante essa mudança, o crescimento pode cair um pouco, mas não muito.'