Título: O trabalho da mulher
Autor: Pastore, José
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/03/2007, Economia, p. B2

Depois de amanhã se comemora o dia internacional da mulher. O que dizer do seu trabalho? A mulher brilha e sofre nesse campo. No Brasil, cerca de 45% das mulheres de dez anos ou mais trabalham ou procuram emprego. Entre as mulheres de 16 a 60 anos, a participação é de 58%. Há 30 anos, era de apenas 39%. Entre 1996 e 1999, o Brasil perdeu cerca de 1,1 milhão de empregos: 90% eram ocupados por homens e 10% por mulheres. De 2000 a 2005, foram criados cerca de 5,5 milhões de empregos - 41% para as mulheres, uma parcela substancial. A cada dez anos, a participação feminina aumenta em 15 pontos porcentuais. O aumento se dá em todas as idades, inclusive entre as mais velhas. Em 1970, a proporção de mulheres de 50 a 59 anos que trabalhavam era de apenas 15,4%, em 2002 foi de 50,1%. Entre as que tinham 60 anos ou mais, a proporção saltou de 7,9% para 19,7%, grande parte aposentadas. A responsabilidade familiar da mulher também aumentou. Cerca de 30% das que trabalham são responsáveis pelo domicílio. Dentre elas, 50% moram só com os filhos, sem cônjuge. É uma carga pesada. O crescimento da participação feminina está ligado às transformações na estrutura das ocupações, à melhoria da educação das mulheres e aos salários mais baixos. O encolhimento da indústria e a explosão do comércio e serviços instigaram uma ampliação de profissões que se adaptaram à capacitação das mulheres, tais como as atividades de escritório, educação, saúde, hotelaria e restaurantes, comércio por conta própria, serviços pessoais, informática, comunicações, bancos, seguros, artesanato, esportes, recreação e trabalho doméstico. Além disso, o mundo empresarial expandiu atividades que contêm valores bem cultivados pelas mulheres: projetos sociais, arte, cultura e humanização do trabalho. Ao lado dessas transformações, a mulher ganhou precisão e eficiência no trabalho. Em média, o seu nível educacional é 37% mais alto do que o dos homens. Muitas profissões que eram tipicamente masculinas são dominadas por mulheres, como é o caso dos médicos, advogados, dentistas, arquitetos, juízes, jornalistas, servidores públicos e de outras dos campos técnico e universitário. A mulher tem respondido às exigências crescentes do mercado de trabalho em quase todos os níveis. Em 2002, apenas 9,3% das empregadas domésticas tinham curso médio ou mais. Em 2006, a proporção saltou para 14,2%. Pode-se dizer que isso reflete a falta de empregos para as moças mais educadas, o que não está descartado. Mas o incremento na remuneração dessas empregadas indica que as famílias demandam pessoas com mais preparação para cuidar da casa e das crianças. Quanto à renda, para as mesmas profissões e níveis educacionais, as mulheres ganham cerca de 30% a menos do que os homens. Esse hiato já foi maior no passado e, ano a ano, vem diminuindo, da mesma maneira que o acesso das mulheres às posições de chefia, gerência e diretoria vem aumentando. Nas áreas de artes, comunicação, tecnologia da informação e no setor público em geral a ascensão é mais rápida. Mesmo nos altos níveis da administração governamental, a participação tem se ampliado, onde gozam de boa reputação. Tanto que 61% dos homens brasileiros acham que, com mais mulheres nos cargos públicos, o governo seria bem melhor. As mulheres avançaram também no campo do empreendedorismo. Cerca de 38% das pequenas e microempresas do Brasil são iniciadas por mulheres. A média mundial estimada pela London School of Economics é de 30%. É verdade que grande parte dessas empresas é informal, onde as condições são precárias. Aliás, mesmo como assalariadas, a maioria das mulheres trabalha na informalidade. Além das diferenças de renda, as mulheres enfrentam uma situação desfavorável na divisão de tarefas domésticas. Os dados indicam que os maridos brasileiros dedicam, em média, apenas 0,7 hora do seu dia ao trabalho do lar. As mulheres que trabalham fora de casa põem 4 horas diárias. Elas seriam mais felizes se os seus maridos fizessem como os dinamarqueses, que dedicam 3,2 horas por dia. Em suma, a mulher conquistou um amplo espaço no mercado de trabalho, mostrando ter garra, competência e o vírus da curiosidade. No últimos 30 anos, sua situação melhorou e a sua contribuição para o crescimento econômico foi decisiva. Os problemas que restam terão de ser resolvidos, em grande parte, pela ampliação do emprego e por novas atitudes dos homens.