Título: Agenda paralela inclui cooperação na área de defesa
Autor: Godoy, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2007, Nacional, p. A12
O novo nome do contencioso entre Brasil e Estados Unidos nas áreas de defesa e segurança hemisférica é parceria. Na agenda paralela da visita do presidente americano George W. Bush, encerrada há dois dias, todos os tópicos prevêem cooperação entre os serviços de inteligência e a retomada de programas de intercâmbio. Alguns deles estão suspensos desde 2001. A agenda é a condensação de 35 diferentes documentos preparada por assessores do Palácio do Planalto e da Casa Branca. Os assuntos passarão a ser discutidos por intermédio de grupos de trabalho. Na sexta-feira de manhã, um último ponto foi acrescentado, tratando do trânsito rápido que será dado a analíse de eventuais compras de armas e equipamentos pelas Forças Armadas brasileiras.
O titular da Secretaria de Segurança Interna, Michael Chertoff, que acompanhou o presidente Bush, ofereceu acesso fácil a cursos e a conhecimentos avançados de inteligência, mas quer receber em troca dados coletados pelo Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam) em relação às novas rotas utilizadas pelos fornecedores do mercado negro de armas para as guerrilhas colombiana e peruana, um negócio estimado em US$ 150 milhões ao ano, segundo estimativa do Ministério da Defesa da Colômbia, apresentada em Washington há quatro meses. O equipamento é pago parcialmente com cocaína. Barcos e aviões piratas circulam pelos rios e pelo espaço aéreo do Suriname e da Guiana. O trabalho integrado dos jatos eletrônicos, radares e sensores do Sivam pode monitorar esse movimento.
Em Brasília, há interesse em conhecer detalhes de um certo Plano Sul, iniciado em 1992, que resultou até agora na presença de 17 guarnições militares dos EUA - operacionais ou de informações - em países como Equador, Peru, Paraguai e Chile; em ilhas do Caribe, no arquipélago das Falklands (com suporte da Grã-Bretanha) e, a partir de 2009, também na costa da África, em São Tomé e Príncipe. As localidades abrigam pessoal e centros de vigilância. O contingente, de prováveis 3 mil homens, é formado por soldados regulares e mercenários recrutados por prestadoras de serviços de segurança como a DynCorp e a Brook Inc.
Há outros pontos bem definidos. Os dois governos querem expandir a parceria no acompanhamento das atividades de grupos envolvidos na operação de lavagem de dinheiro concentrada na tríplice fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina. A Polícia Federal brasileira, citada em relatório do Ministério da Defesa, não acredita que haja na região células dos grupos radicais islâmicos Hamas e Hezbollah, que é a tese da Secretaria de Segurança Interna americana. A inteligência da PF sustenta que a legalização de recursos clandestinos corre por conta de fraude financeira, do contrabando e do tráfico de drogas.
DE OLHO NA AMAZÔNIA
O Departamento de Defesa, o Pentágono, gostaria muito de poder utilizar as bases aéreas de Boa Vista, Porto Velho e Manaus para apoiar as missões de vigilância no espaço da Amazônia. Atualmente os vôos americanos partem da base de Manta, no litoral do Equador. As instalações ficam a apenas 320 quilômetros da Colômbia. A base foi arrendada por US$ 70 milhões até 2009. O presidente socialista Rafael Correa disse, em novembro de 2006, que gostaria de negociar a saída dos militares dos EUA 'agora mesmo, antes do prazo'.
Os 400 homens e mulheres em Manta mantêm no ar de 3 a 5 jatos Boeing E-3 Sentinela, versões especializadas do modelo 707 de passageiros. Essas grandes aeronaves eletrônicas, com antenas rotativas montadas sobre a fuselagem, monitoram movimento de grupos na superfície, o tráfego de aviões utilizados por traficantes e grampeiam comunicações. A cada ano são cumpridas 1.600 missões implicando 10 mil horas no ar. É um empreendimento complexo. Os vôos são controlados a partir de estações de radar de longo alcance montadas em Soto Cano, Honduras. Os E-3 voam protegidos por caças supersônicos F-16, do Grupo Aéreo 429, que decolam das unidades avançadas americanas montadas nas ilhas de Curaçau e Aruba, território holandês no Mar do Caribe.
Derrubar o tratado de arrendamento é difícil - mas não é impossível, e por isso o Pentágono trata de obter alternativas, como seriam os terminais de Roraima, Rondônia e Amazonas . O problema é que o Brasil não admite - desde o fim da concessão da base de Natal, em 1945 - o uso de facilidades militares por forças estrangeiras.