Título: Campo Majoritário censura 'perestroika'
Autor: Costa, Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2007, Nacional, p. A15

Um documento produzido pelo Campo Majoritário do PT - corrente que abriga o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu - promete provocar muita polêmica no 3º Congresso do partido, marcado para julho. No texto da chapa Construindo um Novo Brasil, obtido pelo Estado, o grupo faz ácidas críticas ao que chama de 'autismo político' e 'perestroika' dentro do PT.

É uma clara referência ao movimento liderado pelo ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, que no mês passado propôs a 'refundação' do partido após constatar uma crise de corrupção 'ética e programática' na sigla. No contra-ataque, o antigo Campo Majoritário aponta o risco de que uma eventual vitória do grupo de Tarso - não citado nominalmente - empurre o PT para o gueto político-ideológico.

'Há também o risco de que, frente às dificuldades que vivemos, e que não devem ser subestimadas, surja um movimento que alie oportunismo, amnésia e um certo autismo político, propondo uma perestroika dentro do partido, tentando realizar uma ação quimioterápica para erradicar tudo aquilo que pareça disfuncional, focando apenas alguns alvos, transformando o 3º Congresso em um grande processo de expurgo político', diz o documento.

A perestroika, que literalmente significa 'reconstrução', foi uma das políticas introduzidas na antiga União Soviética por Mikhail Gorbachev, em 1985, junto com a glasnost, para tentar reformar o sistema socialista.

Com 30 páginas e 183 itens, o documento que o Campo Majoritário apresentará como 'tese' para o debate afirma que o PT errou 'na forma de consolidação da base de sustentação político-parlamentar' do governo Lula e ao envolver-se com o financiamento de campanhas de aliados.

Para o grupo de Dirceu, as responsabilidades pela avalanche de crises no partido devem ser apuradas, mas preservando as 'conquistas', sob pena de desagregação. 'Somos o PT, não somos perfeitos e reconhecemos que há gente contraditória no nosso ambiente e, entre forças adversárias, há também muita gente séria', destaca o texto.

SEM PRESSÃO

O presidente do PT, Ricardo Berzoini, disse ontem, ao chegar ao encontro do Campo Majoritário, que considera opinião e, não ataque político, as declarações de que a indicação da ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy para ocupar uma vaga no novo ministério de Lula é uma imposição. Sobre as quatro áreas ministeriais que poderão ser confirmadas a integrantes do PMDB, Berzoini limitou-se a dizer que a relação entre os partidos é 'muito boa'.