Título: Mares Guia, quase coordenador do governo
Autor: Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2007, Nacional, p. A17

Bem-humorado, o ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, nos últimos dias mal tem conseguido disfarçar que, se a reforma do primeiro escalão de governo for finalmente anunciada esta semana, ele assumirá a coordenação política do governo. Nem parece um mineiro que trabalha em silêncio: 'Eu estou mesmo muito feliz', confessa, sem meias palavras.

Na quinta-feira, por exemplo, depois da cerimônia de anúncio dos novos líderes do governo no Congresso, no Palácio do Planalto, Mares Guia discorreu sobre todos os assuntos que esquentam a temperatura política em Brasília no atual momento. Mesmo parecendo ensaiar os primeiros passos da sua nova tarefa, ele garantiu - não sem um enigmático sorriso nos lábios - que ainda não foi convidado oficialmente para mudar de ministério.

SOLDADO DO GOVERNO

'É claro que, se o presidente Lula me convidar, eu honrosamente aceitarei. Já disse a ele: sou um soldado do governo', afirmou, mostrando entusiasmo antecipado com a possível missão. Questionado se iria acumular o ministério das Relações Institucionais, que cuida da articulação política, com o do Turismo, foi traído pelas palavras: 'Não, eu não penso em acumular', respondeu.

Como se tivesse percebido a inconveniência logo depois se corrigiu: 'Bem, é claro que qualquer um de nós, numa emergência, poderia acumular essa ou aquela pasta, mas apenas numa transição'.

Por onde passa, Mares Guia é agora inquirido por um batalhão de repórteres. Na semana passada, foi diplomático até para falar da oposição, que insistia em propor a instalação da CPI do Apagão Aéreo. Chegou mesmo a elogiar os que são contra o governo: 'O papel da oposição é botar defeito, criticar, fazer contraponto. Mas esse contraponto feito em alto nível, como agora, ajuda a iluminar a solução.'

Ao mesmo tempo, ele apresenta uma defesa prévia da administração Lula e afirma que o governo 'como um todo' não pode ser culpado pelo caos aéreo que ocorreu no País. 'É como se alguém quisesse culpar o comandante de um avião porque a aeromoça, ao servir, treme a mão e cai um cafezinho na calça de um passageiro', diz ele, mal comparando.

DILEMA HAMLETIANO

Mares Guia prefere a cautela, porém, quando curiosos querem saber se está de malas prontas do PTB para o PR (ex-PL). Ele tem afirmado que enfrenta um dilema 'hamletiano' sobre deixar ou não o seu partido atual. 'Estou filiado há 16 anos ao PTB, mas manifestei o meu descontentamento pelo fato de o partido não ter posição clara (sobre o apoio ao governo)', comenta o ministro, que acalenta o sonho de ser candidato a governador de Minas em 2010.

Como bom mineiro, dá meia volta e completa o comentário: 'Mas também serei um soldado para ajudar o PTB a encontrar o melhor caminho possível'. Antes de ir embora, sempre distribui afetuosos tchauzinhos para os todos os repórteres. Coisas de quem cumpre o papel de coordenador político.