Título: Irmãos Gomes conseguiram prosperar
Autor: Macedo, Fausto
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2007, Nacional, p. A21

Ele começou a vida do nada. Tinha apenas uma vaca, um bicho magro de dar dó, couro e osso.Vinte e três anos depois, Sebastião Gomes é dono de 220 hectares na Bolívia de Evo Morales, seu gado tem 80 cabeças de Nelore. Cria frangos, 200 aves, e porcos. Planta arroz, milho e feijão rosinha e carioquinha.

Tem ainda o dente de ouro, que mandou colocar em Cobija, e que exibe como um troféu. 'Não sou um homem rico', afirma. 'Trabalho suado para manter o meu pessoal.'

Mora com Rosário Rocca, boliviana, em uma casa equipada com fogão e TV, o que é um conforto e tanto. Os filhos são 14, 'misturando tudo de uma mãe e de outra'. Três estão matriculados na Escola Novo Triunfo, do governo boliviano: Ricardo, de 12 anos, Erguin, de 10, e Kerly, de 9.

A família chegou à Comunidad Arroyo Pacay pelos idos de 1975. Veio da Paraíba para o Acre, por onde entrou na Bolívia. Era um tempo em que as autoridades bolivianas pareciam não se incomodar tanto com os brasileiros. A fiscalização na fronteira era pífia, como agora. Passa quem quer, a hora que quiser.

Sebastião e os irmãos Natal, Fátima e Manoel repartiram um pedaço da Amazônia boliviana herdada do pai. Todos plantam e criam animais.

Nas últimas eleições, os irmãos Gomes 'deram uma força' para o candidato Leopoldo Fernández, do partido Podemos (Poder Democrático Social). Ajudaram a transportar eleitores para votar e distribuíram panfletagem nas ruas.

Eleito governador do Departamento do Pando, o rival de Evo Morales contratou Natal Gomes para a obra de 'mejoramiento de infra-estrutura área rural, construccion puente de madeira', como anuncia a placa fincada à beira do Pacaê.

Sebastião também trabalha na construção da ponte. Ele e sua turma chegam para a missão antes de o dia clarear. Suas ferramentas são a motosserra 051 à gasolina, esquadro, martelos e a talha, engenhoca com carretilha, corrente e cabo de aço.

A nuvem de mosquitos e besouros da floresta já nem incomoda os trabalhadores. Muitos deles, como o próprio Sebastião, já caíram na malária, mas esse é um risco com o qual eles convivem.

Sebastião diz que não tem receio de ser deportado para o Brasil. 'Medo, eu? Claro que não, porque automaticamente eu sou boliviano.'