Título: País disputará reservas chinesas
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/03/2007, Economia, p. B4

O Brasil vai disputar os investimentos dos chineses, que, na semana passada, anunciaram a intenção de criar uma agência para aplicar parte das suas reservas internacionais de mais de US$ 1 trilhão. Segundo o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, o governo deve manifestar seu interesse.

'A China vai investir, aparentemente, em alguns interesses estratégicos no exterior. É um movimento interessante, que vamos observar', disse Meirelles. 'Estaremos em contato com a China, acompanhando.'

Fontes na Basiléia apontam que a perspectiva é que os chineses invistam em ações de empresa de energia, matérias-primas e alimentos. Por essa razão, Meirelles acha que o Brasil está em boas condições para ser um 'destino favorável dos investimentos'.

'O Brasil é um destino altamente favorável e competitivo nas questões que interessam a China, como energia e minérios, e existe interesse complementar entre os dois países. A relação do Brasil com a China é excelente', disse.

Ontem, na Basiléia, a vice-presidente do BC chinês, Wu Xiaoling, apresentou detalhes do projeto. Mas deixou claro que ainda não há definição sobre o destino dos recursos. Alguns governos, como o da Argentina, procuraram já os representantes chineses para obter mais detalhes.

Meirelles, apesar de confirmar que o Brasil terá contato com os chineses, esnobou a necessidade de o País atrair recursos. 'Não estamos mais na fase de buscar investimentos', afirmou. O Brasil recebeu em 2006 um volume que representa apenas 25% dos investimentos diretos recebidos pela China.

Segundo as Nações Unidas, a China já se transformou em importante fonte de investimentos no mundo. Em 1991, contava com US$ 3 bilhões em investimentos diretos no mundo. Hoje, chega a mais de US$ 40 bilhões em 160 países.

Já os chineses deixaram mais uma vez claro, ontem, na Basiléia, que vão continuar usando as reservas para comprar papéis americanos, garantindo o financiamento do déficit dos Estados Unidos. Para especialistas, a criação de uma agência de investimentos afetaria o fluxo do capital internacional.

Apesar de a composição das reservas ser mantida em sigilo, os BCs estimam que 75% do dinheiro das reservas chinesas estejam sendo usadas na compra de papeis americanos, ajudando a financiar o déficit dos Estados Unidos, chegando hoje a 6,6% do PIB do país.