Título: 'Commodity vai girar US$ 1 trilhão'
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2007, Nacional, p. A5

O megaempreendedor do Vale do Silício Vinod Khosla, um dos fundadores da Sun Microsystems e o mais influente lobista do etanol nos Estados Unidos, vê um futuro brilhante para a cooperação entre Brasil e os EUA. O empresário indiano-americano é um dos maiores apologistas do modelo brasileiro de biocombustíveis.

'A tecnologia americana, a visibilidade, a adoção de padrões de etanol e recursos financeiros vão ajudar o Brasil a transformar o etanol em uma commodity que vai movimentar mais de um US$ 1 trilhão nos próximos 25 a 30 anos', prevê Khosla. 'A maioria dos planos que eu vi no Brasil é modesta em relação à escala de oportunidades que temos à frente.' Abaixo, os principais trechos da entrevista:

Qual é a importância de formar um mercado hemisférico de etanol?

Dada a escala do mercado mundial de petróleo e a perigosa concentração das fontes de fornecimento em regiões instáveis ou não democráticas, nós precisamos desesperadamente de diversidade de combustíveis para aumentar a segurança energética do mundo e a oferta de combustível. Os biocombustíveis são a maior esperança neste sentido, já que eles também ajudam a resolver o aquecimento global.

O que precisa ser feito para o mercado de etanol deslanchar?

Em primeiro lugar, é preciso criar padrões para os combustíveis. Isso, juntamente com o mercado regional, vai aumentar o nível de investimentos tanto no Brasil como nos EUA. Hoje em dia, a percepção nos EUA é de que o etanol é um combustível apenas misturado na gasolina, em pequenas quantidades. Com mais fontes de fornecimento, o mercado vai começar a usar mais o E85 (85% de etanol) e o E100 (100%), um mercado dez vezes maior do que apenas usar o etanol como aditivo.

O sr. vê muitas oportunidades nos mercados de etanol de cana, milho e celulósico?

Estamos investindo em etanol de cana, milho, celulósico e em gás combustível. Não apostamos em biodiesel, porque não acreditamos que o custo vá cair o suficiente ou a produtividade vá subir o necessário, para suprir a demanda mundial. Eu acredito que o custo-benefício de etanol celulósico no Brasil será muito bom. Acho que o milho foi um bom começo, cana é melhor e mais barato, mas o etanol celulósico será a melhor opção. Acredito que o etanol brasileiro ajudará a formar o mercado de E85 nos EUA se as tarifas forem eliminadas. Os EUA terão recursos para satisfazer sua demanda com etanol celulósico, mas o Brasil será um fornecedor mundial essencial, principalmente para a Europa, que não possui terras adequadas.

O sr. já esteve no Brasil. Qual é a perspectiva da parceria entre Brasil e Estados Unidos?

A tecnologia americana, a visibilidade, a adoção de padrões de etanol e os recursos financeiros vão ajudar o Brasil a transformar o etanol em uma commodity que vai movimentar mais de US$ 1 trilhão nos próximos 25 a 30 anos. A maioria dos planos que eu vi no Brasil são modestos em relação à escala de oportunidades que temos à frente. Só os 132 bilhões de litros que o presidente Bush quer atingir em 10 anos seriam um mercado de US$ 70 bilhões, que está só começando. Se a Europa seguir os EUA, esse mercado pode dobrar.