Título: Comissão planeja pólo de agroenergia no Brasil
Autor: Morais, José Carlos Cafundó de
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2007, Nacional, p. A6

A bioenergia será o paradigma do desenvolvimento deste século. A médio prazo, provocará profundas mudanças nas relações entre os países. A previsão é do ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, membro da Comissão Hemisférica de Bioenergia. ¿O século passado foi marcado pelo paradigma da segurança alimentar, decorrente, em grande parte, dos traumas da 2.ª Guerra Mundial, e só possível frente a uma brutal política de subsídios¿, compara ele. ¿Agora é a vez da segurança energética, e o Brasil tem de estar preparado para isso, sem causar traumas a ninguém.¿

O objetivo da comissão, criada em dezembro, por iniciativa do ex-governador da Flórida Jeb Bush (irmão do presidente americano), é dar força à iniciativa privada num projeto integrado de produção e comércio mundial de energia renovável. Participam dela Junichiro Koizumi, ex-primeiro-ministro e presidente do principal partido do Japão, e o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Luis Alberto Moreno. Um representante da União Européia deve se juntar em breve.

A idéia é criar uma espécie de Bangalore (poderosa região da Índia que concentra empresas de informática) da agroenergia, com forte apoio de diversos setores, especialmente privados, para produção de conhecimento, tecnologia e produtos de alto valor agregado. A Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) participam.

¿Não queremos servir a interesses paroquiais¿, diz Rodrigues, que hoje dirige os setores de agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e da Fundação Getúlio Vargas. ¿A idéia, sem falsa modéstia, é atender à nova ordem mundial, mais humanista, democrática, que reclama ações cooperativas.¿

A comissão vai fazer o levantamento das potencialidades de produção, logística e consumo de biocombustíveis no mundo todo. As opções são diversificadas. O Japão, por exemplo, vem produzindo álcool com madeira de casas antigas, desmontadas durante a renovação de áreas urbanas. O Porto de Okinawa é facilmente adaptável à importação, estocagem e distribuição de combustíveis para toda a Ásia. O mesmo ocorre em Barbados, pequeno produtor de cana e forte candidato a distribuidor de etanol no Caribe.

Rodrigues afirma que o esperado crescimento da produção de etanol no Brasil não implicará redução na oferta de alimentos. Hoje, diz, a produção de alimentos se concentra em 62 milhões de hectares e a cana-de-açúcar ocupa 6 milhões - metade vira álcool e metade açúcar.

O País tem 200 milhões de hectares de pastagens e, com o avanço tecnológico, hoje se produz mais boi em menor espaço. Cerca de 90 milhões de hectares são aptos para agricultura, com 22 milhões bons para plantar cana. Além disso, a cana pode elevar a produção de grãos, com a rotação de cultura, diz. E a produção dos atuais 3 milhões de hectares pode dobrar com uso intensivo de tecnologia.