Título: Presidente critica abusos e defende limite para greves
Autor: Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2007, Nacional, p. A9

Histórico comandante de greves no ABC paulista, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou ontem que no Brasil há muito abuso em greves no setor público e também no segmento privado. ¿É possível concluir que um setor não pode fazer greve e o outro, pode¿, afirmou Lula, em Georgetown, capital da Guiana, onde participou de encontro do Grupo do Rio. Ele disse que só um governo formado por ex-sindicalistas tem autoridade para estabelecer a proibição de greve em setores essenciais do funcionalismo público.

Na véspera, o ministro Paulo Bernardo, do Planejamento, anunciara que o governo enviará ao Congresso projeto fixando limites para as greves de setores essenciais do serviço público, como as áreas da saúde e dos controladores de vôo.

EXAGEROS

Ao defender limitações nas paralisações de servidores públicos, Lula criticou supostos abusos cometidos pelos sindicalistas que lideram essas categorias. ¿Cada um de nós paga o preço pelos exageros que cometemos¿, afirmou, antes de um encontro com presidentes do Caribe e da América do Sul.

Indagado se havia abuso em paralisações de servidores em áreas como saúde e controle de vôos, Lula disse que há abuso de greve ¿não apenas no setor público, mas em outras categorias¿. Numa afirmação que remete a seu passado sindicalista, Lula declarou: ¿Na verdade, o que queremos garantir na organização do trabalho do Brasil é maior responsabilidade, maior liberdade e, portanto, mais atos conseqüentes de todos nós.¿

O presidente disse que nos anos 70, quando presidia o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e liderava greves, se preocupava em garantir o funcionamento de determinados setores das empresas: ¿Nós acertávamos que alguns setores não deviam parar¿. E concluiu: ¿Num momento, é possível concluir que um setor não pode fazer greve e, no outro, pode.¿

Em São Paulo, o professor de Relações do Trabalho da USP, José Pastore, cobrou a limitação de greves no setor público. ¿O governo está chegando tarde. Essa questão deveria ter sido regulamentada há tempos¿, observou. ¿Não se pode fazer uma greve que prejudique a vida do cidadão, que é um terceiro dentro do processo.¿

O governo vai enviar ao Congresso um projeto que ratifica a Convenção 151 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que fixa regras para greves. Para Lula, o projeto vai garantir a livre contratação do trabalho e maior liberdade de negociação. Logo após a revelação de Bernardo, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) criticou a idéia. Para Lula, houve um mal-entendido: ¿Talvez a CUT esteja chateada com a manchete do jornal. Mas pergunte se é contra a convenção.¿