Título: Para Ciro, o que petistas fazem é 'balé de mau gosto'
Autor: Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2007, Nacional, p. A10

Não é apenas o PP que está incomodado com a insistência dos petistas em dar um 'chega para lá' nos aliados e disputar espaços no ministério. As queixas e a ciumeira atingem praticamente todos os partidos que compõem a base de sustentação do governo no Congresso.

'O PT deu os primeiros passos do balé de mau gosto', critica o deputado Ciro Gomes (PSB-CE), outro pré-candidato à sucessão do presidente Lula, em 2010. Ex-ministro da Integração Nacional, ele avalia que as 'feridas' na base governista não só não cicatrizaram desde o confronto pela presidência da Câmara, no mês passado - quando Arlindo Chinaglia (PT-SP) derrotou Aldo Rebelo (PC do B-SP) -, como são cada vez mais extensas.

'Certas coisas são uma aberração', reage Ciro, em mais uma estocada no PT, que hoje ocupa 16 dos 34 ministérios. Sem citar a ex-prefeita Marta Suplicy, ele afirma que só os 'desocupados políticos e jornalistas obrigados a encher papel' fazem conexões entre decisões tomadas hoje e a eleição de 2010. Mas, ao mencionar as ruidosas disputas por cargos entre os partidos da coalizão, diz que o embate está 'passando do limite do razoável' na política.

'Estão constrangendo o presidente Lula com coisas absurdas', protesta Ciro, que garante preferir ficar na planície no segundo mandato do presidente. 'Eu não sou problema para ele', emenda, jogando outra farpa na direção dos petistas. Com língua afiada, insiste em que a autonomia de Lula para escolher a equipe não deve ser 'nem remotamente' cerceada pelos partidos. 'Não estamos no parlamentarismo. O sistema é presidencialista', observa, irônico.

O ex-chefe da Casa Civil José Dirceu tem dito a interlocutores do governo que vai conversar com Ciro. Avalia que ele está em rota de colisão freqüente com o PT, mas vai aconselhá-lo a mudar o comportamento.

O argumento de Dirceu será atraente: apesar de apoiar Marta, dirá que, se o PT constatar que não tem candidato viável para a sucessão de Lula, Ciro poderá receber o aval de 'grande parte' dos petistas.

Para o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), que deve ser reeleito no domingo contra a vontade do Planalto, o governo deve ter cuidado para que a coalizão não se transforme numa parceria fisiológica.