Título: Ex-prefeita conquistou a periferia
Autor: Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2007, Nacional, p. A10

Circular por alguns bairros da periferia de São Paulo com Marta Suplicy não é muito diferente de caminhar ao lado de uma celebridade. Sempre bem vestida, sem economizar em grifes de luxo, a ex-prefeita da capital costuma arrancar elogios de alguns eleitores que dizem o quanto a acham 'linda'. Poses para foto, autógrafos e abraços são rotineiros nas visitas a seus principais redutos políticos.

Marta, segundo aliados, soube ganhar espaço em regiões onde o PT sempre teve aprovação. 'Houve um cruzamento das ações dela na prefeitura e dos redutos tradicionais do PT', conta o presidente municipal do partido, Paulo Fiorillo.

Mesmo derrotada pelo tucano José Serra quando tentou a reeleição em 2004, Marta venceu o rival em 12 das 42 zonas eleitorais da capital. No Grajaú, teve 74% dos votos no segundo turno, resultado replicado em Parelheiros. Ela obteve 66% em Guaianazes, 65% em Piraporinha e 64% em São Mateus. Venceu o tucano também em São Miguel Paulista, Pirituba, Itaquera, Sapopemba, Campo Limpo, Brasilândia, Itaim Paulista e Capela do Socorro. Em compensação, sua popularidade despenca em bairros de classe mais alta. A petista não chegou a 30% em zonas como Indianópolis (26%), Vila Mariana (27%), Jardim Paulista (25%) e Pinheiros (29%).

Aliados de Marta justificam a performance alegando que ela fez a 'escolha' de priorizar a população carente, apesar de ter nascido em uma família aristocrática. O deputado estadual Ênio Tatto lembra que ela realizava atividades na periferia quase diariamente quando era prefeita. Essa experiência, segundo ele, contribuiu para colocar seu nome entre os possíveis integrantes do novo ministério do presidente Lula.

Mas Marta talvez não estivesse nessa lista se não fosse pela eleição do ano passado. Derrotada pelo senador Aloizio Mercadante na prévia que escolheu o candidato ao governo paulista, ela acabou não disputando nenhum cargo. Mesmo assim, conseguiu chamar a atenção. Em uma visita a Pirituba - numa das vezes que acompanhou Mercadante na campanha -, Marta passou pelo constrangimento de ter de se explicar a uma eleitora que insistia em dizer que votaria nela. 'Dessa vez o candidato é o Mercadante', disse Marta à senhora, que não disfarçava a decepção mesmo estando ao lado do senador.

Em outra ocasião, Marta subiu na sacada de um prédio para falar aos militantes que acompanhavam um ato. Todos gritavam seu nome, mas Mercadante, ao seu lado, não arrancou o mesmo entusiasmo da multidão. O nome do senador só entrou no coro após Marta pegar um microfone e chamar o grito .

Nessa época, aliados de Marta já diziam que Lula se arrependeria de ter ajudado a articular o apoio a Mercadante nas prévias. Ênio Tatto ainda insiste em que o resultado da eleição poderia ter sido outro. 'Tenho certeza de que teria sido diferente. Ela teria ido ao segundo turno e não teria essa história de envolvidos com dossiê', disse, referindo-se ao esquema do dossiê Vedoin, que teve participação do ex-assessor de Mercadante, Hamilton Lacerda.

Mesmo sem concorrer, Marta elegeu diversos aliados para a Câmara dos Deputados e para a Assembléia Legislativa. E, de quebra, levou a coordenação da campanha de Lula em São Paulo no segundo turno.