Título: Chirac não buscará terceiro mandato
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Fonte: O Estado de São Paulo, 12/03/2007, Internacional, p. A10

Jacques René Chirac, presidente da França em fim de mandato, anunciou ontem, aos 74 anos, sua retirada da vida política. O anúncio já era previsto. O que não se esperava era o silêncio de Chirac sobre quem seria seu preferido para o cargo.

Baixos índices de popularidade já haviam afastado, na prática, as chances do presidente de tentar um terceiro mandato autorizado pela lei. Chirac, no entanto, decidiu postergar até o último instante a confirmação do afastamento político e, ao fazê-lo, não elegeu um herdeiro. Nicolas Sarkozy, ministro do Interior e candidato de seu partido, o União por um Movimento Popular (UMP), terá de lutar sem o apoio de Chirac.

Passavam-se poucos instantes das 20 horas - o horário de maior audiência das emissoras de TV no país - quando o pronunciamento oficial de Chirac mobilizou a rede nacional de transmissão. Com ar circunspecto, o presidente não escondeu a emoção: ¿É com o coração que me apresento diante de vocês¿, disse ao iniciar o discurso, declarando em seguida seu amor à França - à qual disse ter servido com ¿o compromisso de toda a vida¿. ¿Nem por um minuto eu deixei de servir a esta França magnífica, esta França que amo tanto quanto vocês.¿

Chirac enumerou alguns marcos de seus dois mandatos (1995-2002 e 2002-2007): a defesa do Estado laico (Chirac proibiu, por exemplo, estudantes islâmicos de vestir trajes religiosos nas escolas públicas), o apoio financeiro a idosos e portadores de deficiência, o combate à delinqüência, o incentivo à inovação e o combate ao desemprego. Esse prelúdio, que serviria a um discurso de candidato, foi logo interrompido pela declaração de sua aposentadoria: ¿Ao término do mandato que vocês me confiaram, o momento será de servi-los de outra forma. Eu não pedirei seus votos para um novo mandato¿, declarou.

Chirac, então, surpreendeu, anunciando que não se manifestará, por enquanto, sobre quem apoiará nas eleições presidenciais de abril e maio. Pediu apenas que os franceses não se rendam aos extremismos e à intolerância racial e cultural. Sarkozy esperava seu apoio. Minutos antes, o candidato tinha declarado: ¿Uma vez que ele (Chirac) se expresse sobre seu futuro, não tenho dúvidas de que se engajará na minha campanha.¿

A reação ao pronunciamento foi imediata. Ao vivo, na emissora de TV pública France 2, líderes dos principais partidos se manifestaram. Constrangido, Brice Hertefeux, ministro da Coletividade Territorial e representante da UMP, partido de Chirac e Sarkozy, foi evasivo: ¿O engajamento do presidente não poderia ser como o de qualquer outro.¿

CONVIVÊNCIA PACÍFICA

Lançado na política em 1967 por um futuro presidente, Georges Pompidou, Chirac foi primeiro-ministro duas vezes: entre 1974 e 1976, na presidência do centrista Giscard d¿Estaing, e entre 1986 e 1988, com o socialista François Mitterand na chefia de Estado. Como líder do partido direitista RPR, bateu nas eleições de 1995 o socialista Lionel Jospin, a quem nomearia primeiro-ministro dois anos depois. Entre seus atos mais relevantes como presidente estão a retomada dos testes nucleares nos anos 90, o fim do serviço militar obrigatório, a oposição aos EUA na Guerra do Iraque e a defesa do meio-ambiente.