Título: Alternativa ao petróleo é crucial, diz Bush
Autor: Grinbaum, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/03/2007, Nacional, p. A8

Ao anunciar o acordo com o Brasil para investimentos e pesquisa em combustíveis, o presidente americano George W. Bush justificou seu interesse pelo álcool brasileiro como uma questão de segurança nacional. Segundo Bush, os Estados Unidos precisam reduzir sua dependência do petróleo.

¿Estou muito otimista que os Estados Unidos podem se beneficiar de fontes alternativas de energia¿, disse Bush, que anunciou o acordo ontem de manhã, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em uma visita a um terminal de combustíveis da Transpetro, subsidiária da Petrobrás, em Guarulhos.

Durante o encontro, Lula e Bush foram fotografados num cenário montado com temas ligados ao etanol e discursaram para empresários, numa tenda armada no terminal. Embora o acordo não traga medidas de impacto, segundo empresários e analistas de mercado, os presidentes trataram o anúncio como um momento histórico.

¿Estou convencido que o Brasil e os Estados Unidos têm a capacidade de liderar o caminho (da mudança de matriz energética no mundo)¿, disse Bush. Ele justificou seu entusiasmo lembrando um projeto que enviou ao Congresso no qual prevê a redução do consumo de gasolina nos EUA em 20% até 2017. Na prática, a medida abriria espaço para multiplicar por sete o mercado de etanol do país, chegando a 35 bilhões de galões por ano.

¿As pessoas se perguntam por que o presidente dos Estados Unidos se preocupa tanto em diversificar nossas fontes de energia. Uma das razões é que nossa dependência se tornou uma questão de segurança nacional. Depender da energia de outros significa que dependemos das decisões de outros¿, disse Bush.

O presidente americano anunciou a liberação de US$ 1,6 bilhão em verbas para pesquisas de fontes alternativas de energia ao petróleo nos próximos dez anos. Bush disse que, em seu governo, já investiu US$ 12 bilhões em pesquisas.

O presidente Lula lembrou a história da primeira conversa com Bush sobre biocombustíveis, em 2005, em Brasília. ¿É importante lembrar que, quando o presidente Bush foi a Brasília, eu tinha uma obsessão pelos biocombustíveis, e quase que ele não consegue almoçar de tanto que eu falei de biocombustível¿, disse Lula.

Lula tratou o acordo do biocombustível como um marco. ¿Isso foi importante porque nem sempre o mundo está preparado e apto para mudanças importantes, se não houver incansáveis debates até as pessoas se convencerem de que o planeta Terra precisa ser despoluído e está nas nossas mãos, que poluímos, a tarefa de despoluir.¿

SEGURANÇA

A visita foi feita em um cenário de guerra. Lula chegou ao terminal da Transpetro por volta de 10h10, em um helicóptero. Bush veio numa caravana de limusines e, no caminho, passou pela favela Cumbica, em Guarulhos, com barracos de alvenaria, crianças descalças nas ruas e cartazes de protesto em que o presidente americano aparecia com bigode pintado como o de Adolf Hitler. Petroleiros fizeram um protesto com um balão que trazia a palavra de ordem ¿Fora Bush¿, com uma suástica no lugar do S.

Durante o trajeto, podia-se ver soldados do Exército, policiais federais e agentes americanos. Três helicópteros sobrevoavam a Transpetro, bloqueando o espaço aéreo. Os convidados tiveram de passar por detectores de metais e medidores de radiação.

Bush chegou à Transpetro dez minutos depois de Lula. Os dois se reuniram numa tenda para ouvir uma apresentação do presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, sobre biocombustíveis. Bush e Lula sentaram-se ao centro de uma fileira de cadeiras no formato de uma ferradura, com ministros e assessores nas laterais.

Em clima informal e descontraído, Lula e Bush saíram da tenda para as fotos, num cenário montado com cestos com sementes de girassol, mamona, cana-de-açúcar e uma maquete de destilaria de álcool, além de motores e carros flex fuel.

De lá, eles se dirigiram à outra tenda, onde estavam os convidados, cerca de 300 empresários e autoridades brasileiras e americanas. Entre os brasileiros, estavam os ministros do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, das Relações Exteriores, Celso Amorim, e de Minas e Energia, Silas Rondeau. A secretária de Estado, Condoleezza Rice, estava à frente da equipe americana.

Lula e Bush demonstraram bom humor. No início do discurso, Lula pediu que fossem desligados os refletores para que eles não virassem ¿filé¿. Bush encerrou seu discurso como um pop star. Foi cumprimentado aos gritos por executivos e empresários, que se acotovelavam para se aproximar ou tirar uma foto ao lado dele. ¿Vejo você em meu rancho¿, brincou Bush, dirigindo-se a um executivo mais entusiasmado.