Título: Política externa com papo de botequim
Autor: Marin, Denise Chrispim e Manzano Filho, Gabriel
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/03/2007, Nacional, p. A12

Sexo, jogos, divertimento - ou melhor, ponto G, truques de baralho e noites de Oscar. Não, não era um encontro de amigos em hotel de turismo. Era o presidente Lula brincando, misturando política externa e conversa de botequim, no encontro entre ele, seu convidado George W. Bush e a imprensa, ontem à tarde, no Hilton.

Qual Mike Tyson, ele jogou pesado já ao entrar no palco: ¿Puxa, tem mais jornalista aqui do que em premiação de Oscar¿. Passado o tempo de risos da platéia, completou: ¿É claro que quem está dando os prêmios não é tão bonito...¿

Não demorou para que voltasse a fazer menção ao sexo. Dois dias depois de ensinar ao País que ¿sexo é uma coisa da qual quase todo mundo gosta¿, Lula insistiu com seu parceiro americano quanto à urgência de chegarem logo ¿ao ponto G¿ do entendimento sobre a Rodada Doha. Para dizer que a conversa tem progredido, recorreu, sem inibição, à imagem do orgasmo feminino: ¿Estamos andando com muita solidez para encontrar o chamado ponto G e para fazermos alguma coisa¿. Bush, atento ao fone de ouvido, riu ao ouvi-lo. O público americano, não. Esse trecho da conversa foi omitido na TV daquele país pelo tradutor que apresentava o diálogo ao vivo.

Momentaneamente alheio às questões do futebol - culpa, quem sabe, do técnico corintiano Leão? - o presidente, habituado a relatar grandes diferenças políticas como se fossem pequenos jogos, apresentou suas cartas. ¿Quando se negocia¿, comentou a propósito da batalha do protecionismo, envolvendo Brasil, EUA e Europa, ¿nenhum país quer fazer a primeira oferta¿. Todo mundo ¿tem cartas na manga do colete¿. Há jogadores que jogam contra, outros que jogam a favor ¿e até outros que simplesmente não querem jogar¿, avisou o presidente brasileiro, para concluir que ele e Bush estão dentro dessa disputa: querem, sim, debater os subsídios na agricultura.

O baralho voltou à mesa instantes depois - com Bush comportadinho, em seu púlpito, enquanto Lula mais parecia um experiente crupiê cortando as cartas sem olhar - quando a Rodada Doha voltou a ser lembrada. ¿Se você me perguntar o número eu não respondo, porque é um segredo muito bem guardado. Se eu der o número, o adversário vai tentar puxá-lo para baixo¿, advertiu. Entrando no espírito da coisa, coube a Bush o grand finale, numa recomendação aos jornalistas americanos: ¿Tomem cuidado, não vão ficar tempo demais nos bares por aí...¿