Título: Brasil cobra pressa em negociação na OMC
Autor: Marin, Denise Chrispim e Manzano Filho, Gabriel
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/03/2007, Nacional, p. A12

Diante de seu convidado, George W. Bush, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem que o Brasil e os Estados Unidos ¿encontrem o ponto G¿ entre suas ofertas negociadoras para a conclusão da Rodada Doha, da Organização Mundial do Comércio (OMC), ¿o mais rápido possível¿. Inspirado, Lula referiu-se a um ponto de equilíbrio entre o corte dos subsídios concedidos pelo governo americano a seus agricultores e a liberalização dos mercados industrial e de serviços brasileiros. Desfalcado em seu poder político de decidir sobre a posição final americana, Bush manteve-se calado sobre os subsídios e preferiu não se comprometer com nenhum prazo para finalização do acordo multilateral.

¿Estamos andado com muita solidez para chegar ao chamado ponto G, para fazer o acordo¿, afirmou Lula. ¿Eu vejo aqui a sua ministra negociadora (Susan Schwab, representante dos EUA para o Comércio), vejo aqui o meu ministro negociador (o chanceler Celso Amorim) e penso que deveríamos dar a eles uma única ordem: façam um acordo o mais rápido possível. Se os Estados Unidos e o Brasil se entenderem, fica mais fácil convencermos aqueles que ainda não estão participando do acordo.¿

Lula ainda retomou sua proposta de organização de um encontro de líderes mundiais, com a finalidade de adotar os compromissos políticos necessários para a conclusão da Rodada. A idéia já havia sido defendida no primeiro semestre de 2006 e acabou parcialmente realizada na Cúpula do G-8, o grupo das economias mais ricas somado à Rússia, em São Petersburgo. Mas não evitou a suspensão da Rodada, em julho.

No início de fevereiro, a Rodada Doha foi retomada, com base na convicção de que a ¿janela de oportunidade¿ para concluir o pré-acordo sobre o capítulo agrícola - o mais crítico - terminaria no início de abril. A menos de quatro semanas do esgotamento desse prazo, ainda não há claros sinais da aproximação da oferta dos Estados Unidos das demandas da União Européia e dos grupos de economias em desenvolvimento.

CARTEADO

Lula teve o cuidado de não se referir aos subsídios agrícolas americanos com o adjetivo ¿nefasto¿, como fez na quinta-feira. A rigor, tratou-se de uma típica gentileza de anfitrião. Mas o presidente empenhou-se para expor seu otimismo em relação à conclusão da Rodada - o que não foi compartilhado por Bush, que preferiu qualificar-se como ¿realista¿ - e para explicar com didatismo as mazelas da negociação, lançada em 2001.

Lula comparou a Rodada a um carteado, no qual os parceiros evitam lançar sua melhor carta na mesa e a escondem ¿no colete¿, e também à cobrança de um pênalti. Mas igualmente empenhou-se para apontar o impacto de um acordo ambicioso para o impulso econômico e a redução da pobreza no mundo em desenvolvimento. Para ele, mesmo com um acordo final menos expressivo que o necessário, a Rodada será ¿suficiente¿ para indicar que ¿mais pobres têm uma chance no século 21 que não tiveram no século 20¿.

¿Se tivermos a inteligência e a competência para tirar do bolso do colete os números que, até agora, são segredos guardados a sete chaves, nós vamos encontrar um ponto em comum¿, insistiu o presidente. ¿A minha crença é de que as coisas estão mais ou menos encaminhadas. Eu sou otimista.¿