Título: O discurso de Bush
Autor: Marchi, Carlos
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/03/2007, Nacional, p. A18
¿Eu na verdade esperava voltar e visitá-lo, porque todas as vezes que conversamos sobre preocupações e oportunidades mútuas, esse diálogo foi construtivo e positivo.
Eu respeito o presidente Lula. Obviamente, o povo do Brasil o respeita. Afinal, o senhor venceu uma eleição por maioria esmagadora e eu o felicito por essa eleição, embora não tenha estado ¿ não tenha retornado ao seu país desde as eleições. Acho ótimo poder dizer que um bom amigo foi reeleito, porque isso confirma o fato de que a democracia está viva, e muito bem, no Brasil. E o Brasil é um grande exemplo para outras democracias sobre o que é possível e o que é importante.
Muito obrigado pela visita à usina de biocombustíveis hoje. Acho interessante, como disse lá na usina, que dediquemos bastante tempo e muita discussão sobre como podemos trabalhar juntos para promover fontes alternativas de energia. É do interesse dos Estados Unidos promover fontes alternativas de energia. E o Brasil mostrou que isso é possível.
Assim, senhor Presidente, prezo imensamente a sua liderança nessa questão. No meu país, falei da necessidade de reduzirmos o uso da gasolina em 20% em 10 anos, que precisaremos ter 35 bilhões de galões de combustíveis alternativos em 2017. Acho que essa é uma meta possível de ser atingida. O senhor mostrou que é possível. Eu espero partilhar a pesquisa entre nossos países. Espero que continuemos a explorar as oportunidades.
Compartilho as suas preocupações com as pessoas que, numa democracia, não estão recebendo os benefícios dessa democracia. Acho que o senhor é sensato quando reconhece que a democracia só é forte quando as pessoas sentem que a sociedade as beneficia. Parte da mensagem nesta minha viagem à América do Sul, e no final à Guatemala e também ao México, é para dizer que o povo americano tem um profundo interesse na justiça social, que acreditamos na educação e na saúde, que acreditamos em programas de apoio que ajudam a tirar as pessoas de suas condições presentes e que queremos ajudar.
Muito obrigado pela nossa vigorosa discussão sobre comércio. Acontece que Estados Unidos e Brasil estão no centro do debate da OMC ¿ Organização Mundial do Comércio; que se desanimarmos, no caso dessas conversações comerciais, grande parte do mundo desanimará também; que, se formos incapazes de trabalhar juntos no âmbito da OMC, o mundo não conseguirá trabalhar junto, nessas conversações. E é por isso que nossas conversações são vitais, pois o sucesso da Rodada de Doha para a OMC é necessário por muitas razões, e uma importante é que o programa antipobreza mais eficiente é o comércio.
Assim, comprometo-me com o senhor do mesmo modo que o senhor se comprometeu, ou seja, que trabalharemos juntos. Trancaremos nossos ministros do comércio numa sala, com a meta de avançar com esta importante rodada.
Compartilho seu otimismo sobre o que pode ser feito. Que vai exigir muito trabalho. Eu aviso os outros países, contudo, que, se os Estados Unidos e o Brasil estiverem de acordo, isso não os liberará de fazerem as concessões necessárias de forma que todo o mundo ganhe nessas negociações comerciais.
Uma coisa na qual acredito fortemente é que a América precisa ser mais aberta aos estudantes que chegam ao nosso país. Conversei muito a esse respeito com a secretária Rice e espero que muitos estudantes brasileiros venham aos Estados Unidos da América. Penso que será uma fantástica oportunidade para estudar e aprender. E é do nosso interesse que as pessoas venham e vejam o que nós gostamos, pessoas que venham e vejam a compaixão do povo americano.
Conversamos sobre política externa quando dos nossos encontros. Dedicamos algum tempo à América Central, e uma das mensagens que desejamos enviar para nossos amigos centro-americanos é que um meio para ajudar a desenvolver nossos países é adotar as indústrias do etanol e do biodiesel.
Conversamos sobre o Haiti e eu cumprimento o presidente pela sua vigorosa liderança, aceitando as responsabilidades, para ajudar o Haiti. O Brasil tem sido um líder vigoroso, cooperando com a estabilização e fornecendo tropas para o Haiti. Sei que é um grande esforço, senhor presidente, mas o senhor fez uma opção difícil e foi uma opção humanitária, uma opção correta e o povo do Brasil deve sentir-se orgulhoso da sua liderança nessa importante questão.
Conversamos sobre a África. O presidente mostrou-se profundamente preocupado com a África, como eu também. Discutimos sobre como poderemos trabalhar juntos em projetos específicos para ajudar as pessoas. E, assim, nossos Ministérios das Relações Exteriores discutirão programas específicos ¿ uma joint venture americano-brasileira para ajudar a eliminar a pobreza e melhorar a vida das pessoas.
Agradeço a sua hospitalidade. Provavelmente as pessoas não sabem disso, mas passei muito tempo envolvido em questões mundiais e o presidente deste país é muito respeitado em todo o mundo. As pessoas o ouvem. Ele fala claramente, mas fala com um conjunto de valores que são nobres.
Assim, senhor presidente, estou muito feliz pelo senhor estar aqui ¿ quero dizer, muito feliz por estar aqui. Espero recebê-lo nos Estados Unidos no final deste mês em Camp David, de modo que possamos continuar a dialogar e discutir sobre como podemos trabalhar juntos para o bem comum.¿