Título: Para estudioso, educativas devem ter 4 fontes de verba
Autor: Filgueiras, Sônia
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/03/2007, Nacional, p. A6

Uma questão central para o bom funcionamento das TVs educativas, o financiamento, exige uma solução estável e permanente. Essa solução deve consistir em uma cesta de recursos de quatro diferentes origens: o governo, as doações - a serem deduzidas do imposto de renda -, a venda de serviços e programas e os apoios culturais. Essa é a tese central de um estudo que o sociólogo e estudioso de TV pública Laurindo Leal Filho vai apresentar no I Fórum Nacional de TVs Públicas, a ser realizado em Brasília, de 11 a 14 de abril.

¿A ajuda do Estado faz sentido porque essas emissoras oferecem à sociedade projetos de educação e cultura¿, diz ele. As outras fontes, afirma, ajudarão a compor o quadro, permitindo que se chegue ao outro ponto fundamental para essas redes: um modelo de controle de gestão que garanta autonomia. ¿O que não faz sentido é veicular propaganda comercial¿, adverte.

O anúncio, pelo ministro das Comunicações, Hélio Costa, de um anteprojeto de rede pública de TVs para o Poder Executivo, segundo ele, surpreendeu o pessoal do setor. ¿Tenho um pé atrás com esse projeto¿, afirmou. ¿O que me parece é que o resultado dele deverá ser uma grande rede com uma pequena audiência¿.

Essa possibilidade, em sua opinião, é que explica o apoio dado ao ministro pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert). ¿Eles deram apoio porque já percebem que a tal rede pública não vai ter audiência¿. Ou seja, não vai incomodar os programas das emissoras privadas.

O quadro das TVs educativas no País, segundo Leal Filho, tem sido de crises e insuficiências quase o tempo todo, e isso é explicável. ¿As emissoras, com raras exceções, foram submetidas à descontinuidade de gestão - ou seja, cada vez que era eleito um novo governante, as chefias e as equipes eram todas trocadas¿. Além disso, ¿os orçamentos foram sempre mínimos, em alguns Estados realmente insignificantes¿. Uma das conseqüências disso foi a ausência de tecnologia adequada, já que não havia investimentos de qualidade nessa área.

¿Há ainda o problema da interferência política, que existe até em emissoras que dispõem de estrutura jurídica com certa independência¿, lembra o professor. ¿Mesmo não oferecendo recursos, muitos governantes imaginam que a rede pública deve estar ao seu dispor.¿

Mas ele acredita que já existe um embrião para a futura rede pública de TV - formado não só pela TV Cultura de São Paulo, mas por outras poucas emissoras de direito privado do País, como a TV Piratini, no Rio Grande do Sul, e um canal municipal em Ponta Grossa, no Paraná. ¿A experiência da Cultura é importante. Ela conseguiu estruturar um sistema moderno, que se aproxima do da BBC.¿

É perfeitamente possível, diz, criar uma TV comprometida com a educação e a cultura e que vença o desafio dos programas ditos chatos. ¿A Alemanha, a Inglaterra e a França fizeram isso. Muitos dos programas das TVs públicas desses países disputam audiência com as TVs privadas¿.