Título: Gonzales defendeu limitar direitos de presos suspeitos de terrorismo
Autor: Serrano, Richard A.
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/03/2007, Internacional, p. A12

A vida de Alberto Gonzales é quase um conto de fadas. Cresceu num casa de dois quartos construída pelo próprio pai num bairro pobre de Houston, no Texas. Acreditou no sonho americano e foi o único dos oito irmãos que terminou os estudos. Estudou Direito em Harvard e foi nomeado secretário de Estado do Texas, em 1997, início de um estreito relacionamento com o então governador George W. Bush. Enquanto esteve no cargo, notabilizou-se por negar praticamente todos os pedidos de clemência para os condenados à pena de morte.

Logo que Bush foi eleito presidente, em 2001, Gonzales foi convidado para ser conselheiro da Casa Branca.

No ano seguinte, elaborou um polêmico relatório segundo o qual a Convenção de Genebra não deveria ser aplicada a prisioneiros da guerra no Iraque e no Afeganistão. Segundo o relatório, a importância de obter-se informações sobre futuros ataques terroristas tornava sem valor vários artigos da Convenção.

Durante o período em que ajudou a formular o arcabouço jurídico dos Estados Unidos pós-11 de Setembro, Gonzales colecionou inimigos entre as organizações de direitos humanos. Entre outras coisas, defendeu os interrogatórios secretos, muitas vezes cercados de acusações de tortura, e o direito de deter indefinidamente suspeitos de terrorismo sem acusações formais. Foi dele também a idéia de autorizar o uso de tribunais militares para julgar suspeitos de terrorismo.

Gonzales foi um dos primeiros a defender a Lei Patriótica, que subordina liberdades individuais às ações de inteligência para combater o terrorismo. Como conselheiro da Casa Branca, foi acusado de estar por trás da decisão de permitir a extradição de prisioneiros de guerra sob custódia americana para países que utilizam a tortura para arrancar informações.

Graças à afinidade com o presidente, seu nome começou a ser cotado para a Suprema Corte americana. Antes, Bush tinha mais uma missão para Gonzales: substituir o conservador John Ashcroft como secretário de Justiça. A indicação foi uma manobra política que levou a assinatura de Karl Rove, principal conselheiro de Bush.

Gonzales foi confirmado no cargo pelo Senado, em fevereiro de 2005, tornando-se o latino a ocupar o mais alto posto no governo federal em toda a história dos Estados Unidos. Mal havia esquentado a cadeira, a então conselheira jurídica da Casa Branca, Harriet Miers, teria entrado em contato com o Departamento de Justiça para apresentar a idéia das demissões. As pressões da Casa Branca aumentaram ao longo de 2006, até que, em dezembro, Gonzales colocou oito procuradores no olho da rua, detonando a crise.