Título: Documentos provam ação da Casa Branca na demissão de procuradores
Autor: Serrano, Richard A.
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/03/2007, Internacional, p. A12

Poucas semanas depois de o presidente George W. Bush assumir seu segundo mandato, em janeiro de 2005, a Casa Branca e o Departamento de Justiça traçaram um plano para ¿enxotar¿ alguns dos 93 procuradores federais dos EUA.

D. Kyle Sampson, chefe de gabinete do secretário de Justiça, Alberto Gonzales, apresentou uma lista que classificava cada um dos procuradores quanto à posição política e ao desempenho no cargo. E recomendou que fossem mantidos ¿procuradores que demonstram lealdade ao presidente e ao secretário de Justiça¿ - sugerindo a ¿dispensa de procuradores que foram contra iniciativas do governo¿.

Essas palavras estão sacramentadas em cerca de 150 páginas de e-mails e outros documentos que a Casa Branca entregou na terça-feira ao Senado e à Comissão de Justiça da Câmara. As Casas investigam acusações de que oito recentes demissões tiveram motivação política - em vez de razões técnicas, como alega o Departamento da Justiça.

Os documentos oferecem um extraordinário olhar sobre as táticas políticas da administração Bush. O governo chegou ao ponto de adotar planos de contingência de como ¿calar¿ os que reclamassem. E foi a administração que deu o sinal verde final para destituir os oito procuradores.

Segundo os documentos, as autoridades estavam ansiosas para desocupar, a qualquer custo, a vaga de procurador em Little Rock, Arkansas, para que pudesse ser preenchida por Timothy Griffin, um membro do Partido Republicano próximo do consultor político da Casa Branca, Karl Rove.

Os documentos descrevem o gabinete do senador Pete V. Domenici (republicano do Novo México), que estava pressionando em favor da remoção do procurador de Albuquerque, como ¿extremamente satisfeito¿ com a ¿exoneração de David Iglesias¿. Também em San Diego, Califórnia, a procuradora Carol Lam foi demitida por não ser mais dura com a imigração ilegal. A descoberta da participação de Sampson nos episódios surgiu quando Gonzales anunciou, na terça-feira, que o assessor estava deixando seu gabinete.

Em princípio, Sampson e a então consultora jurídica da Casa Branca, Harriet E. Miers, pensaram em demitir todos os 93 procuradores federais. Mas logo recuaram porque consideraram que traria muitos transtornos. No fim, acabaram se fixando nos oito nomes.

Em janeiro de 2006, Sampson enviou um memorando confidencial a Harriet e ao vice-conselheiro da Casa Branca, William Kelley, delineando as opções. Ele sugeriu que, uma vez que os procuradores fossem informados da exoneração, o Departamento de Justiça ¿poderia trabalhar sigilosamente com eles para incentivá-los a deixar o posto voluntariamente¿. ¿Isto permitirá a eles que tomem as providências necessárias para trabalharem no setor privado e `salva as aparências¿ em relação ao motivo de exoneração¿, diz o documento.

No Novo México, por exemplo, Domenici reclamou seguidas vezes de Iglesias. Ele deu vários telefonemas para a Casa Branca, para o Departamento de Justiça e até mesmo para Iglesias para perguntar sobre uma investigação de corrupção contra os democratas no que parecia estar estagnada no Estado.

Mais tarde, quando Iglesias foi demitido, Domenici rapidamente recomendou nomes para a Casa Branca substituí-lo. ¿Ele nem deixou o corpo esfriar¿, comentou Sampson num e-mail para um assessor dias após a destituição.

INTERVENÇÃO

Janeiro de 2005: Começa o segundo mandato de George W. Bush. O governo elabora plano para demitir alguns dos 93 procuradores federais. O principal assessor de Gonzales, Kyle Sampson, cria lista classificando os procuradores por critérios como fidelidade partidária e desempenho na função.

Fevereiro de 2005: A então conselheira jurídica da Casa Branca e amiga de Bush, Harriet Miers, sugere a demissão de todos os procuradores.

Janeiro de 2006: Miers desiste de demitir todos procuradores e escolhe quem deve ser demitido pela lista de Sampson.

Outubro de 2006: Bush se queixa com Gonzales sobre procuradores que não estariam investigando corretamente casos de fraude eleitoral envolvendo democratas.

Dezembro de 2006: Oito procuradores são demitidos, dos quais, sete tinham ficha impecável. Suspeita-se de intervenção da Casa Branca no Judiciário.