Título: Do seu divã, Clodovil solta o verbo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 18/03/2007, Nacional, p. A9

Instalado em seu gabinete da Câmara, num divã branco decorado com o brasão da República, o deputado Clodovil Hernandes (PTC-SP) fala de suas primeiras impressões sobre o Congresso. Avalia que as relações entre os parlamentares são marcadas por um ¿formalismo mentiroso¿. No estilo direto e desconcertante que o tornou popular, ele faz seu diagnóstico: ¿Aqui é um mercado de compra e venda de coisas como qualquer outro. E o pior: não é com o dinheiro da gente, é com o dinheiro do povo. Percebi de cara.¿

Aos 70 anos, o antigo estilista que virou apresentador de TV antes de chegar à política parece ser um observador atento. Diz que muitos deputados usam o poder de sedução de seus cargos e a estrutura de apoio parlamentar para aventuras amorosas. ¿Aqui tem de tudo. Tem gente que usa a Câmara para namorar. Você já viu como há mulheres bonitas nos corredores?¿, instiga.

Uma das principais preocupações de Clodovil no momento é concluir a reforma de seu gabinete, no Anexo 4. A transformação já custou R$ 200 mil, que o deputado afirma ter pago com dinheiro do próprio bolso. Um dos destaques da decoração é uma mesa com tampo de vidro, apoiado numa base em forma de naja. Tudo cercado por sofás brancos, também com brasão.

Na política, Clodovil costuma ser um crítico mordaz do presidente Lula, mas seu partido é governista. Na Câmara, o PTC faz parte do bloco capitaneado pelo PMDB, hoje poderoso inquilino da Esplanada dos Ministérios. Os planos políticos do deputado são vagos: ele admite tanto a hipótese de mudar de legenda quanto a de se candidatar a prefeito de São Paulo pelo PTC.

¿Todo mundo sugeriu que eu mudasse de partido. Mas eu ainda vou estudar se continuo ou vou para outro. Eu me candidatei por este partido porque foi o que apareceu. Mas eu não tive dinheiro para despesa, não tive nada. Fiz uma campanha com R$ 14 mil¿, afirma.

Indagado sobre a possibilidade de concorrer à prefeitura, diz: ¿Eu não penso, mas o partido quer. Essas coisas são feitas como negócio, você sabe como funcionam as coisas aqui.¿

O deputado crê ter surpreendido os demais parlamentares: ¿As pessoas esperavam um ser cheio de tiques e manias de estrela, mas esbarraram em outra pessoa completamente diferente. Não tenho tiques e não sou estrela. Mesmo que fosse, aqui eu não faria nada desse jeito. Aqui não sou o dono do meu dinheiro. Esse dinheiro que ganho não é de empresa e sim de um país.¿

Homossexual assumido, Clodovil diz estar sofrendo discriminação disfarçada dos colegas em Brasília: ¿Estão com pé atrás, mas o preconceito é velado. É o pior preconceito que existe, porque é por debaixo do pano. É um horror.¿ Ele deixa claro, porém, que não vai levantar bandeiras de minorias: ¿Se o casamento é instituição falida para os heterossexuais, imagina para os gays.¿

Sobre a vida em Brasília, Clodovil tem opiniões bem ao seu estilo. E não demonstra muita simpatia pela cidade: ¿É uma cidade mal iluminada, parece uma fazenda com algumas casas.¿