Título: Eventual infidelidade do PMDB pode levar base a se rebelar
Autor: Moraes, Marcelo de
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/03/2007, Nacional, p. A10

Se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já imagina colher os frutos políticos da coalizão que lhe dá apoio, poderá ter de enfrentar antes os problemas de se aliar com partidos nem sempre estáveis no seu comportamento. Integrantes da base de apoio do governo no Congresso já começaram a prevenir o presidente de que, se o PMDB - o partido mais favorecido - não se comportar como parceiro em tempo integral, a base poderá sair de controle nas votações de interesse de Lula na Câmara e no Senado.

¿Se o PMDB votar contra algum projeto do governo depois de ganhar cinco ministérios, todos os partidos com menor espaço vão se sentir liberados para também não votar com o governo¿, avalia o deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP), integrante da base que chegou a ser cogitado para ocupar o Ministério da Agricultura.

A maior queixa dos aliados é sobre o amplo espaço destinado pelo governo ao PMDB no processo da coalizão. Agora, a equipe ministerial de Lula terá cinco peemedebistas: Hélio Costa (Comunicações), Silas Rondeau (Minas e Energia), Geddel Vieira Lima (Integração Nacional), José Gomes Temporão (Saúde) e um nome ainda a ser confirmado para a Agricultura, depois da desistência do primeiro indicado ao cargo, deputado Odílio Balbinotti (PMDB-PR) para o cargo.

Sem tanto espaço, partidos aliados como PSB, PR e PC do B, por exemplo, torcem o nariz para a ampliação de espaço conquistada pelos peemedebistas. O PR reclama que poderá perder o controle do portos - que sairiam da alçada do Ministério dos Transportes, controlado pelo partido, para as mãos do PSB, que assumiria uma nova secretaria especialmente criada para cuidar do setor.

CRÍTICAS

No meio desse tiroteio, os partidos de oposição não poupam críticas à formatação da coalizão e à composição do novo ministério de Lula. ¿O presidente não olha para a qualidade dos quadros que escolhe. Quadro, para ele, é partidário. E, de preferência, que não seja do PT¿, ironiza o líder da minoria na Câmara, deputado Júlio Redecker (PSDB-RS).

Na sua correspondência pública regular, o prefeito do Rio, César Maia (PFL), bateu pesado nas escolhas presidenciais. ¿Pela primeira vez se pode dizer que a assertiva básica de Lula - `nunca antes nesse país¿ - se aplica cabalmente. Nunca antes nesse país se teve um ministério tão medíocre como esse. Medíocre politicamente. Medíocre tecnicamente¿, afirmou o prefeito. ¿Uma coisa é certa. O governo acabou, mal começou. Esse ministério de forças políticas centrípetas só vai ciscar para dentro. Esse ministério não vai levar qualquer tema a lugar algum. E isso num momento em que se colocam na mesa de discussão temas como aquecimento global, um novo ciclo de incertezas financeiras, modelos de gestão, ciência e tecnologia etc...¿

O próprio Lula fez questão de dizer que os atuais escolhidos nada devem aos antecessores. Mas não escondeu o pesar com a saída de alguns ministros.