Título: Cidade paulista se mobiliza para 15 minutos de papa
Autor: Amendola, Gilberto e Menocchi, Simone
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/03/2007, Vida&, p. A27

¿Se Nossa Senhora interceder, o papa desce do carro¿, diz a bordadeira Maria Augusta dos Santos Gusmão, de 69 anos. Pode parecer algo simples demais, mas este é o milagre que a maioria dos 15 mil habitantes da pequena cidade de Potim, vizinha a Aparecida, no interior do Estado, espera que o papa Bento XVI realize durante sua rápida passagem pela cidade.

Até o momento, o acertado é que, no dia 12 de maio, o papa visite Guaratinguetá - mais especificamente a Fazenda da Esperança, no bairro de Pedrinhas, onde irá conhecer um projeto de recuperação de dependentes químicos. Depois dessa visita, o papa segue de carro fechado (nada de papamóvel) para seu aposento no Seminário Bom Jesus, em Aparecida. No trajeto, irá cruzar a cidade de Potim.

Se não descer do carro para um aceno ou uma bênção, serão menos de 15 minutos passando pela cidade. Mas para Potim será um evento marcante. ¿A simples passagem do papa já muda a nossa história, já dá uma injeção de auto-estima em nossa população¿, diz o prefeito, Gilberto Vicente do Carmo.

Potim é a caçula da região do Vale do Paraíba. A cidade era um distrito de Guaratinguetá até 1991, quando foi emancipada. Antes da confirmação da passagem do papa por lá, a cidade só aparecia no noticiário graças aos dois presídios que abriga.

¿A visita do papa é uma alegria para a população, mas uma preocupação para o prefeito¿, brinca o próprio político. O receio é mais do que justificado. De uma só vez, Potim deve receber mais de 20 mil visitantes. Não há hotéis, restaurantes e estacionamento para toda essa gente. A princípio, o prefeito vai transformar a escola pública em um alojamento improvisado e criar bolsões de estacionamento em terrenos vazios.

Os moradores também estão dispostos a abrir suas residências para abrigar romeiros que vierem de longe. Na casa de cinco cômodos dos aposentados João e Terezinha da Costa, os lugares já estão reservados. ¿Vou receber 4 pessoas, mas se tivesse espaço receberia mais de 20¿, diz João. ¿Aqui não se fala em outra coisa.¿

O padre Carlos Alberto de Carvalho, 54 anos, tem se ocupado com os preparativos da passagem do papa. ¿Já estamos conversando com a pastoral que atua nos presídios. Os presos irão confeccionar as bandeirinhas que enfeitarão a cidade¿, diz. Além das bandeiras, uma fanfarra deve ser convidada para tocar no coreto da praça. ¿Vamos rezar para ele descer do carro¿, diz o padre.

BORDADO RARO

Caso o papa decida descer do carro, vai receber uma série de presentes e homenagens dos moradores locais. As artesãs da ONG Orienta Vida, por exemplo, bordam um enxoval de quatro peças para o papa.

A técnica de bordado utilizada para produção do enxoval foi criada no século 18 e serviu também para enfeitar os lençóis de Napoleão Bonaparte. ¿Presentear o papa é uma honra, independentemente de religião¿, diz a artesã Rosa Maria de Oliveira, que é evangélica.