Título: 'Não dá para o País crescer se cortar orçamento'
Autor: Veríssimo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/03/2007, Economia, p. B15

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, acredita que a retomada do crescimento econômico trará investimentos para o Brasil. Mas para isso, alerta, há a necessidade de que as ações do governo sejam coerentes com o discurso. ¿Não dá para falar que o País vai crescer, se depois se contingencia o orçamento e os investimentos atrasam. E atrasos, em alguns casos, são irrecuperáveis e encarecem o empreendimento. Então, executar e cumprir o que foi combinado traz credibilidade e uma série de subprodutos positivos¿, pondera o ministro ao Estado.

Furlan diz que o governo pecou por não conseguir nos anos anteriores entregar o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) dentro das expectativas de crescimento. ¿O investidor é muito desconfiado e a autoridade normalmente mistura um pouco de desejo com a realidade. Então, neste momento, algumas iniciativas que têm visibilidade precisam andar rápido, porque estas sim vão alavancar os investimentos¿, argumenta. Segundo ele, o Estado precisa de um sistema de gestão eficiente.

Para o ministro, as taxas de crescimento da economia previstas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para os próximos quatro anos são modestas. Ele acha que o País tem potencial para crescer mais de 5% ao ano. Embora aponte a necessidade de melhorar as condições de infra-estrutura e reduzir a carga tributária, diz que taxas de crescimento mais elevadas é fundamental para atrair investimentos.

Furlan argumenta que a China tem infra-estrutura e burocracias piores que a brasileira, mas atrai capital por causa do crescimento. ¿Só vai ter crescimento vigoroso se tiver 25% do PIB de investimento. E só vai ter investimento se crescer. Este momento é bom porque o mercado doméstico está puxando a demanda. E isso chama investimento.¿

Segundo ele, setores que estavam com capacidade ociosa histórica como o automobilístico estão sendo colocados na parede. Quem não investir vai perder participação de mercado. E é consistente a oferta de crédito, a melhora da renda e a queda dos juros.¿ Para Furlan, o atual protagonista do crescimento econômico é a construção civil.

O PAC, afirma Furlan, se propõe a planar o caminho para os investidores e melhorar a competitividade brasileira por meio da melhoria da infra-estrutura, da desoneração de tributos e da simplificação. ¿Depois da fase do antibiótico, vem a vitamina. E para nós, agora, é a fase da vitamina.¿

Prestes a deixar o governo, Furlan avalia que ainda há espaço para reduzir impostos que barateiem o investimento e a produção. ¿O efeito na economia seria mais rápido e vigoroso se tirasse impostos da produção e dos investimentos.¿ Segundo ele, novas medidas estão em estudo.

O ministro destaca ainda o sucesso do comércio exterior do País. As exportações, mais uma vez, podem superar a meta deste ano, de US$ 152 bilhões. ¿Vamos encerrar o primeiro trimestre com as exportações US$ 1 bilhão a mais do que o previsto.¿ No entanto, estima Furlan, o superávit comercial será menor, já que as importações estão crescendo cerca de 10 pontos porcentuais acima das exportações.

Mesmo assim, Furlan diz que a balança comercial brasileira deve apresentar saldos positivos mensais na casa dos US$ 3 bilhões. Em 2006, o superávit comercial foi de quase US$ 47 bilhões.

DESPEDIDA

O ministro afirma que não sai do governo levando frustrações. ¿Eu aprendi muitas coisas aqui e saio muito animado porque, se alguma coisa foi feita, muito mais poderá ser feito.¿ Apesar da burocracia e da morosidade da máquina pública, queixas constantes de Furlan, ele avalia que o saldo foi positivo. Mas acha que ¿muitas coisas param no campo federal por falta de comunicação, por falta até de companheirismo e de compartilhamento de responsabilidades.¿

¿Espero que o meu substituto agregue, use aquilo que aconteceu para melhorar ainda mais.¿ Furlan diz que deixa como legado uma equipe do ministério com auto-estima e algumas entidades ligadas à sua pasta modernizadas e estruturadas, como o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), Instituto Nacional de Metrologia (Inmetro) e Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa). Em relação ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Furlan diz ser preciso que ocupe ainda mais o papel de motor do desenvolvimento.

Ele garante, no entanto, não ter ressentimentos por não ter controlado a instituição nestes quatro anos, embora seja vinculada ao seu ministério. ¿Eu não tenho frustração com o banco, mas os meus poucos cabelos brancos vieram daí.¿