Título: Petista herdará orçamento engessado
Autor: Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/03/2007, Nacional, p. A4

Além de ter sido convidada para um ministério que não terá a desejada incorporação da Infraero, a ex-prefeita Marta Suplicy (PT) não terá controle total dos recursos sob sua administração. Ela herdará um orçamento feito por seu antecessor, Walfrido Mares Guia, novo articulador político do governo e responsável pela negociação do pagamento de emendas parlamentares com a equipe econômica e os líderes do Congresso. Isso significa que, para liberar boa parte dos recursos de sua pasta, Marta terá de discutir com o antigo ministro.

Se tentar redirecionar as verbas do ministério para projetos de seu interesse, poderá entrar em choque com Mares Guia. Se mobilizar setores do PT em seu favor, o conflito tenderá a aumentar. ¿Duvido que ela faça isso. Criaria problema com o Congresso inteiro¿, diz um importante líder governista.

A situação de Marta é especialmente complicada no que diz respeito às verbas que seu antecessor conseguiu acrescentar à dotação fixada pelo Executivo. De acordo com os dados do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), o governo reservou R$ 703 milhões para a pasta. Mas, durante a votação do Orçamento no Congresso, Mares Guia, conhecido por sua habilidade política, conseguiu elevar a dotação para R$ 1,8 bilhão.

Somente para o programa ¿apoio a projetos de infra-estrutura turística¿, o principal e mais cobiçado do ministério, por sua versatilidade na destinação de recursos, Mares Guia conseguiu elevar as dotações de R$ 23,5 milhões para R$ 1,02 bilhão. Com emendas subscritas pela bancada de parlamentares dos Estados, o ministro obteve R$ 650 milhões. Emendas aprovadas por comissões renderam ao orçamento do Turismo outros R$ 370 milhões.

DESINTERESSE

Além disso, há centenas de emendas individuais dedicadas por parlamentares a programas do ministério. Como o Turismo estava nas mãos de um aliado de outra legenda, os petistas parecem não ter se interessado em destinar recursos à pasta: foram R$ 23 milhões em emendas individuais. Já os integrantes do PTB inscreveram R$ 108 milhões . A grande maioria desses recursos foi fruto de articulações fechadas por Mares Guia e sua equipe.

Em um esforço para agregar um pouco mais de poder à pasta de Marta, o PT ainda tentou ¿turbinar¿ o Turismo com mais cargos e verbas, mas não conseguiu. Lula decidiu criar uma Secretaria de Portos, que deverá ser entregue ao ex-titular da Integração Nacional Pedro Brito, do PSB. A nova secretaria, no entanto, não abrigará os aeroportos nem ficará vinculada ao ministério a ser comandado por Marta, como queriam os petistas. A idéia é manter a pasta sob a alçada da própria Presidência. Na prática, a secretaria será criada para compensar o PSB, que perdeu a Integração Nacional para Geddel Vieira Lima (PMDB).