Título: Após acordo com PT, Vaz de Lima, candidato do governador José Serra, ganha apoio de 90 dos 94 deputados
Autor: Brandt, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2007, Nacional, p. A10

O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), conseguiu eleger ontem o deputado tucano Vaz de Lima como presidente da Assembléia paulista, inclusive com os votos do PT. Vaz de Lima teve 90 votos, após a posse dos 94 deputados eleitos - 96% do total, portanto.

Acordo com o PSDB permitiu ao PT ficar com o segundo posto mais importante na Mesa Diretora, a primeira secretaria - assumida pelo deputado Donisete Braga -, além da quarta secretaria - para a deputada Maria Lucia Prandi. Também conquistaram vagas o PFL (segunda secretaria, com Edmir Chedid), o PTB (primeira vice-presidência, para Waldir Agnello), e o PPS (segunda vice-presidência, com Luis Carlos Gondim).

Petistas e tucanos sustentaram que os dois partidos fizeram um acordo pontual, apenas para garantir a proporcionalidade na distribuição das vagas da Mesa. Tentaram negar, assim, o acerto mais amplo envolvendo a eleição de Arlindo Chinaglia (PT-SP) para a presidência da Câmara dos Deputados. Aliados dos governadores José Serra e Aécio Neves articularam apoio ao petista no Congresso, mas, diante das reações negativas, recuaram. Quando o tucano Gustavo Fruet (PR) não passou para o segundo turno na eleição da Câmara, o grupo ficou livre para descarregar votos em Chinaglia.

Pelos termos do acordo inicial, um aliado de Aécio ficaria com a primeira vice-presidência da Câmara, um tucano iria para a presidência da Assembléia da Bahia e o PT apoiaria o candidato de Serra na Assembléia paulista - o que de fato aconteceu.

¿Coincidência¿, alegou ontem o deputado Enio Tatto, ex-líder do PT. Em sua primeira entrevista como presidente da Assembléia, Vaz de Lima fez questão de minimizar o acordo. ¿O fato de o PT ter votado em conjunto não significa que eles não farão oposição¿, disse o tucano, que ressaltou várias vezes que não fala pelo governo.

A distribuição das vagas na Mesa voltou a seguir a proporcionalidade do número de cadeiras de cada partido, após duas eleições sem que essa regra informal fosse seguida. Em 2003, o governo Geraldo Alckmin levou à presidência da Mesa o tucano Sidney Beraldo, mesmo com o PT tendo maior número de deputados. Na eleição de 2004, não houve acordo e o candidato do PSDB, Edson Aparecido, acabou derrotado por uma candidatura do PFL apoiada pelo PT - que deu a presidência a Rodrigo Garcia.

Eleito novo líder do PT na Assembléia, Simão Pedro afirmou que o partido não dará trégua ao Executivo. ¿Entendemos que o Serra hoje é um dos maiores oponentes do projeto político do PT¿, disse Simão. Questionado se o acordo com o PSDB não enfraqueceria o PT como força de oposição, o novo líder reagiu: ¿O PT percebeu que a função dele não é só contestar. A gente não vê mais o Parlamento como espaço da burguesia. Somos conscientes de que é preciso ocupar espaço na Mesa¿.

O PT, que é a segunda maior bancada - com 20 cadeiras, perde apenas para as 24 do PSDB -, busca ainda espaço nas principais comissões permanentes, que são a de Finanças e Orçamento, a de Constituição e Justiça e a de Fiscalização. ¿O presidente Vaz assumiu compromisso de que teríamos uma das comissões¿, disse Simão.

OPOSIÇÃO

Com parte de sua postura de oposição, o PT estuda uma forma de abrir uma CPI para apurar possíveis irregularidades nas obras do Metrô. O ex-líder Enio Tatto disse que o partido ainda não colheu as assinaturas necessárias, mas afirmou estar informado de que a base do governo vai apresentar diversos pedidos de CPI que tratem de assuntos que não representem problema para Serra. Assim, o pedido da oposição teria que entrar numa fila para ser aberto. ¿Havendo objeto específico e prazo determinado, não há o que falar em fazer ou não fazer¿, disse Vaz de Lima. ¿Não tendo cinco CPIs funcionando, cabe ao presidente instalá-la¿. Mas o critério tem de ser cronológico, lembrou o tucano.

O governador José Serra, que fez um breve discurso durante a posse dos deputados, falou sobre a importância do comportamento ético e ressaltou a necessidade de uma ¿oposição consciente¿. Com quase 70 dos 94 deputados como aliados, Serra disse esperar uma relação amigável com o Legislativo.