Título: Governo brasileiro quer concluir Rodada Doha até início de 2008
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2007, Economia, p. B13

O Brasil quer a conclusão da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) até o início de 2008. Pelos cálculos do governo, se a negociação que começou em 2001 não for concluída até os primeiros meses do próximo ano, o risco é de que seja adiada para 2010 ou mesmo depois. Na OMC, a previsão brasileira é vista como um resultado do recente encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e George W. Bush.

¿Essa é a única data possível¿, afirmou o embaixador do Brasil na OMC, Clodoaldo Hugueney. Segundo ele, se a Rodada não avançar de forma decisiva até lá, as eleições presidenciais nos Estados Unidos irão impedir qualquer debate. Como uma nova administração assumirá o governo americano em 2009, já que o presidente George W. Bush não pode se candidatar a um terceiro mandato, toda a política comercial de Washington deverá ser repensada, o que envolveria um atraso significativo no processo multilateral.

Para que esse objetivo seja atingido, porém, o atual governo americano terá de convencer o Congresso a estender a autorização que o poder legislativo dá ao Executivo para que negocie acordos comerciais. A atual autorização vence em meados do ano e Washington alerta que somente conseguirá o novo mandato se avanços significativos forem realizados nos próximos dois meses.

Consciente da necessidade de que os países emergentes flexibilizem suas posições, o chanceler Celso Amorim irá até Jacarta, na Indonésia, na próxima semana para debater o assunto com o grupo de países em desenvolvimento que, ao contrário do Brasil, são importadores de alimentos, o G-33.

Esses governos são reticentes em abrir seus mercados como querem americanos e europeus. Para Washington e Bruxelas, só haveria um corte de seus subsídios à produção se os agricultores dos países ricos fossem compensados por um novo acesso a mercados. Para isso, portanto, economias como a da Índia, China, Indonésia e de outros países teriam de aceitar novos cortes de suas tarifas para alimentos.

O Brasil vive uma situação de intermediário por ser ao mesmo tempo um país emergente, mas interessado na abertura de mercados. Não por acaso, Washington insiste em que Brasília precisa convencer os demais países em desenvolvimento a reduzir suas tarifas.

Entre os diplomatas brasileiros, muitos concordam que somente haverá um acordo quando os países emergentes também aceitarem flexibilizar suas posições.

¿Não há dúvida de que a chave para a conclusão da Rodada está com os países ricos e a necessidade de que reduzam subsídios e cortes tarifas de importação. Mas todos precisam se engajar. Precisamos fazer um esforço para concluir o processo¿, afirmou Hugueney. ¿O tempo está se esgotando¿, afirmou Crawford Falconer, presidente das negociações agrícolas na OMC.

Além das reuniões na Indonésia, Amorim poderá manter reuniões bilaterais com americanos e europeus em abril. Enquanto isso, ministros do Grupo de Cairns (que reúne exportadores agrícolas) estarão no Paquistão nos próximos dias. No caso desse bloco, a principal discussão é como garantir que a Rodada resulte em aberturas reais de mercados.