Título: Serra sugere aos EUA relatório sobre Guantánamo
Autor: Westin, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2007, Nacional, p. A10

Ontem, véspera da chegada do presidente George W. Bush ao Brasil, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), desafiou os Estados Unidos a redigir um documento sobre as violações aos direitos humanos cometidas na base americana em Guantánamo.

Com irritação e ironia, Serra reagiu ao relatório anual do Departamento de Estado americano sobre direitos humanos no mundo, que neste ano citou a violência em São Paulo, mais especificamente as mortes decorrentes dos ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC). Segundo o documento, a polícia reagiu de forma exagerada, com prisões arbitrárias e execuções.

¿Eu não li o relatório. Achei estranho que ele não menciona o assassinato de policiais. É curioso isso¿, disse Serra, referindo-se às mortes causadas pelo PCC.

A onda de violência começou em maio, sob a gestão do governador Cláudio Lembo (PFL), logo após Geraldo Alckmin, correligionário de Serra, deixar o governo para se candidatar à Presidência.

Para o governador, os EUA também deveriam fazer um relatório sobre as violações cometidas pelo próprio governo americano. Ele se referia à base de Guantánamo, que se localiza em Cuba e está sob o domínio dos EUA. É para lá que os americanos levam prisioneiros de guerra e terroristas. No local, acusam entidades internacionais, os estrangeiros presos são torturados.

¿Eu gostaria de ver também o relatório do Departamento de Estado sobre Guantánamo. Você não acha justo? Só para a gente poder olhar...¿, afirmou Serra.

ETANOL

O governador também criticou os EUA por taxar o etanol brasileiro e subsidiar a produção local. ¿A questão básica do etanol neste momento são as tarifas norte-americanas. Os Estados Unidos pregam o livre comércio, mas quando é da sua conveniência eles deixam o livre comércio de lado. Há uma contradição¿, queixou-se o tucano, sugerindo que o Brasil faça uma ¿batalha¿ para que os EUA abram seu mercado.

Ele citou que o galão do etanol brasileiro é taxado em US$ 0,54 ao entrar nos EUA. E que, além disso, cada galão do etanol americano recebe outros US$ 0,54 em subsídios do governo. ¿É protecionismo. Isso prejudica os consumidores norte-americanos, que poderiam estar pagando mais barato.¿

Mais que preocupado com o consumidor americano, Serra pensa em São Paulo. O Estado responde por 75% de todo o açúcar e todo o álcool que o Brasil exporta - o que equivale a US$ 3,5 bilhões por ano. ¿A economia brasileira é mais aberta que a norte-americana. Aqui não temos expedientes de protecionismo não tarifário. Não temos taxas especiais.¿

Serra participará do almoço que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá com George W. Bush amanhã, em São Paulo. Questionado se falaria sobre Guantánamo, respondeu: ¿Não vou perguntar isso para o Bush.¿ Em relação ao etanol, comentou: ¿Sou apenas um convidado. Mas, se for chamado a falar, falarei.¿