Título: Com efeito China, juro cai 0,25 ponto
Autor: Pereira, Renée e Freire, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2007, Economia, p. B1

Em meio à turbulência do mercado financeiro internacional, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a cautela e, como em janeiro, reduziu em apenas 0,25 ponto porcentual a taxa básica de juros (Selic), para 12,75% ao ano. A decisão, unânime e sem viés, veio de acordo com as expectativas dos analistas, que apostam na manutenção do ritmo lento de corte nas próximas reuniões.

No comunicado divulgado após a reunião, os diretores do Banco Central (BC) informaram apenas que estão dando prosseguimento ao processo de flexibilização da política monetária, iniciado em setembro de 2005. De lá para cá, o Copom já promoveu 14 reduções consecutivas, que totalizam sete pontos porcentuais. Apesar disso, o juro real ainda continua o maior do mundo, em 8,4% ao ano. Apenas o presidente do BC, Henrique Meirelles, e seis diretores votaram na decisão final. O diretor de Política Econômica, Afonso Bevilaqua, exonerado ontem, não participou.

Outro fato importante na reunião foi a retomada da unanimidade entre os integrantes do Copom. O consenso anterior havia sido na reunião de outubro do ano passado, quando a taxa foi reduzida de 14,75% para 14,25% ao ano. Nas duas últimas reuniões houve divisão pelo placar de 5 a 3. Em janeiro, três diretores do BC votaram por uma queda de 0,50 ponto porcentual. A maioria, entretanto, optou pelo corte de 0,25 ponto porcentual.

O consenso foi considerado positivo pelos analistas. Para o economista da Modal Asset Alexandre Póvoa, a falta de definição do governo quanto à confirmação da diretoria para o segundo mandato deixou o BC como alvo de muitas especulações nos últimos 45 dias.

Além disso, diz ele, indicações recentes de economistas não muito ortodoxos para outros cargos fora do BC são fontes de preocupação para o mercado. 'Não menos importante, os investidores ainda têm dúvidas se a saída de Bevilaqua representa um ponto fora da curva ou o início de uma mudança mais profunda nos quadros da autoridade monetária.'

Póvoa está otimista quanto às futuras decisões do Copom, que teria condições de retomar um corte de 0,5 ponto porcentual. 'Mas, apesar de espaço, creio que o Copom vai manter o corte de 0,25 ponto nas próximas cinco reuniões, o que levaria a Selic para 11,5% no final deste ano.' O economista não acredita que a turbulência no mercado desde a semana passada, que derrubou as bolsas mundiais, interrompa o ciclo que queda da taxa básica de juros. 'Isso porque por enquanto o que estamos vendo é uma crise financeira, não econômica.'

O economista do ABN Amro Real Jankiel dos Santos tem opinião semelhante. Para ele, a volatilidade no mercado é uma correção de preço dos ativos, uma mudança de posição dos investidores. 'Ninguém alterou as expectativas para o crescimento mundial. O impacto no Copom ocorreria no momento em que os números mostrassem desaceleração mundial.'