Título: 'Se a bolha estourar, os preços terão de ser corrigidos'
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/03/2007, Economia, p. B1
As quedas das bolsas de valores, ontem, decorrem das dúvidas dos investidores sobre o potencial impacto dos problemas no mercado imobiliário americano na economia do país e, por extensão, do planeta. ¿Se ocorrer um estouro (da bolha imobiliária), haverá redução do consumo, que fará desacelerar o crescimento¿, explica Ricardo Amorim, economista do Banco WestLB. Ele conversou com o Estado, por telefone, de Nova York.
O estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos se dará pelo segmento subprime?
Ninguém sabe ainda. O risco que deixou o mercado nervoso é justamente esse. Se ocorrer um estouro, haverá redução do consumo, que, por sua vez, fará desacelerar o crescimento. Com isso, os preços dos ativos do mundo todo terão de ser corrigidos para baixo em relação aos níveis atuais.
O sr. acredita que é isso que vai acontecer?
Não teremos clareza a respeito por um bom tempo. A princípio, o mercado subprime não é significativo para trazer abaixo o mundo.
Qual o risco para a economia real?
Ele se dá por duas vias. A primeira delas é financeira. As ações de empresas e bancos envolvidos nesses empréstimos têm fortes perdas nos mercados, o que pode forçá-los a reduzir novos financiamentos. A segunda, a meu ver mais importante, está relacionada à oferta de imóveis. Se a devolução de imóveis decorrente da falta de pagamento das hipotecas gerar um grande aumento da oferta, levará a uma forte redução de preços. Isso formaria uma bola de neve, que teria impacto negativo sobre o consumo dos americanos (o consumo nos EUA é o maior responsável pelo crescimento do Produto Interno Bruto). Não estamos nesse ponto, mas podemos chegar lá.
Quais são os cenários possíveis para o desfecho dessa história?
No melhor cenário, de soft landing (desaceleração suave), a bolha desinfla por um período longo, de até 10, 15 anos. Os preços dos imóveis vão se ajustando aos poucos. No pior, a bolha estoura e há uma correção significativa de preços de uma vez, que pode ser de 30%, 40% ou até 50%.
Como explicar às pessoas comuns que problemas no mercado imobiliário podem levar a economia americana - e o mundo - a ter uma recessão?
Nos últimos anos, o que produziu a maior parte do consumo nos EUA foi a sensação que os americanos tinham de maior riqueza, por causa da alta dos preços dos imóveis. Eles tomaram empréstimos ancorados na valorização dos imóveis. Com o juro mais alto, a prestação ficou mais cara e os preços das residências começaram a cair. Portanto, os americanos perderam renda e riqueza. Esse impacto já está sendo sentido desde o ano passado.
O sr. concorda com o ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) Alan Greenspan, que diz que os EUA têm um terço de chance de entrar em recessão até o fim do ano?
O que Greenspan diz é que há dois terços de chance de os EUA não entrarem em recessão. Portanto, é maior a probabilidade de que não haja recessão. Concordo com ele.
É possível estimar quanto tempo a volatilidade vai durar?
Meses, talvez anos.