Título: Tremor nas bolsas. Culpa agora é do mercado imobiliário americano
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/03/2007, Economia, p. B1
Exatas duas semanas depois de a China derrubar mercados no mundo todo, as bolsas de valores tiveram um novo dia de forte nervosismo no Ocidente. O vilão da vez é o mercado de crédito imobiliário americano para clientes de alto risco, conhecido como subprime.
As bolsas em Nova York tiveram o pior pregão desde 27 de fevereiro, quando a Bolsa de Xangai despencou quase 9% e desencadeou a recente turbulência dos mercados. O Índice Dow Jones recuou 1,92%, enquanto a Nasdaq perdeu 2,15%. No Brasil, a Bolsa de São Paulo perdeu 3,39%, o dólar fechou na maior cotação do dia, R$ 2,104, e o risco Brasil avançou 3,66%, para 198 pontos. A Bolsa de Buenos Aires caiu 3,76%, a do México, 2,46%, a de Londres, 1,16% e a de Frankfurt, 1,36%.
Os investidores, que já estavam atentos aos problemas das carteiras subprime, reagiram a duas novas informações. A primeira, divulgada pela Associação de Bancos Hipotecários (MBA, em inglês), mostrou que a execução de hipotecas nos EUA bateu recorde no último trimestre de 2006. Além disso, a Accredited Home Lender, que atua no setor, anunciou ter problemas para se financiar.
Se não bastassem essas notícias, as vendas no varejo nos EUA em fevereiro se expandiram menos que projetado pelos analistas (0,1%, ante estimativa de 0,3%). 'Justo quando se pensava que o ambiente voltara a ser seguro para investimentos em ações, um novo pânico tomou conta do mercado', definiu Phil Flynn, vice-presidente da Alaron Trading em Chicago.
CADA VEZ MAIS DIFÍCIL
O relatório da Associação de Bancos Hipotecários revelou que as taxas de atrasos em pagamentos no quarto trimestre de 2006 subiram para 14,44%, uma alta de 1,22 pontos porcentuais. Segundo a associação, a taxa de residências entrando em processo de execução de hipoteca atingiu o recorde de 0,54% no quarto trimestre.
'Os fornecedores de empréstimos subprime devem ficar ainda mais suscetíveis aos aumentos dos juros e a subseqüente redução do valor das moradias', disse o economista-chefe da instituição, Doug Duncan.
Segundo a associação 4,53% dos 5,97 milhões de empréstimos subprime estavam em processo de execução de hipoteca no fim do quarto trimestre, ante 3,86% no terceiro trimestre.
Entre os empréstimos prime (que cobram menos juros dos clientes por conta do risco menor de calote), apenas 0,50% dos 33,32 milhões de financiamentos estavam em processo de execução de hipoteca, ante 0,44% ao final do terceiro trimestre do ano.
As ações da Accredited Home Lenders Holding despencaram 65,18%, para US$ 3,97, depois de a empresa anunciar que terá de obter novas linhas de crédito para poder honrar suas obrigações financeiras. Na segunda-feira, a segunda maior financiadora do segmento subprime, a New Century Financial, já havia informado que não conseguia mais recursos no mercado para cumprir suas obrigações. Investidores ignoraram o alerta e o Índice Dow Jones avançou 0,34% naquele dia.
Ricardo Amorim, diretor de Pesquisa Econômica e Estratégia para América Latina do Banco WestLB, afirmou que os problemas no mercado imobiliário podem empurrar a economia americana para uma recessão, arrastando o mundo todo.
'Ninguém sabe ainda se isso vai acontecer', observou (ler mais abaixo). Estima-se que o segmento subprime represente de 15% a 20% do mercado de hipotecas dos EUA, que totaliza US$ 6,5 trilhões. É, portanto, um problema que envolve entre US$ 1 trilhão e US$ 1,3 trilhão.